misabellC Tour

free counters

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

"Imaginário"


Por “imaginário” entendemos um conjunto de

imagens visuais e verbais gerado por uma sociedade (ou

parcela desta) na sua relação consigo mesma, com outros

grupos humanos e com o universo em geral. Todo

imaginário é, portanto, coletivo, não podendo ser

confundido com imaginação, atividade psíquica individual.

Tampouco se pode reduzir o imaginário à somatória de

imaginações. Obviamente estas também se manifestam em

quadros históricos, pois, mesmo ao imaginar, cada

indivíduo não deixa de ser membro de uma sociedade e de

seus valores objetivos e subjetivos. Porém, por englobar o

denominador comum das imaginações, o imaginário as

supera, interfere nos mecanismos da realidade palpável

(política, econômica, social, cultural) que alimenta a própria

imaginação.

Mais precisamente, o imaginário faz a intermediação

entre a realidade psíquica profunda da sociedade (aquilo

que os historiadores às vezes chamam de mentalidade) e a

realidade material externa. Desta, o imaginário leva para a

primeira os elementos que na longa duração histórica

podem transformá-la; daquela, leva para a segunda as

formas possíveis de leitura da sociedade sobre ela mesma.

Neste trânsito circular, os instintos, os sentimentos, as

sensações, traduzidos culturalmente, adaptam-se à

realidade objetiva, e assim formulados são reprocessados

pela realidade psíquica. Resultante do entrecruzamento de

um ritmo histórico muito lento (mentalidade), com outro bem

mais ágil (cultura), o imaginário estabelece pontes entre

tempos diferentes. A modalidade do imaginário que foca

sua atenção em um passado indefinido para explicar o

presente é o que chamamos mito. Aquela que projeta no

futuro as experiências históricas do grupo – concretas e

idealizadas, passadas e presentes – é ideologia. A terceira

modalidade, que parte do presente na tentativa de

antecipar ou preparar um futuro, que é recuperação de um

passado idealizado, é utopia.

Naturalmente os limites entre essas formas de

imaginário são movediços. Tais formas jamais existiriam

historicamente em estado puro, e com freqüência cada uma

delas acaba por assumir as funções das outras. Diante

disso, muitas vezes é preferível utilizar a denominação

genérica – imaginário – às particulares (mito, ideologia,

utopia), que encobrem recortes conceituais problemáticos.

O importante é que toda sociedade é, ao mesmo tempo,

produtora e produto de seus imaginários. Logo, a

verdadeira história, aquela que considera o homem na sua

complexidade e totalidade, encontra-se na articulação entre

a realidade vivida externamente e a realidade vivida

oniricamente. (...)

(FRANCO JÚNIOR, Hilário. Cocanha. A história de um país

imaginário. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 16-17).

 
 

 

Nenhum comentário:

misabellC search

Pesquisa personalizada