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sábado, 24 de janeiro de 2009

Ortografia


Quanta coisa vai ter que mudar com essa reforma!

Ivana Maria França de Negri


Eu tinha um forno de microondas, agora tenho o mesmo forno, só que passou a ser forno de micro-ondas. Meu marido era médico ultra-sonografista e fazia exames de ultra-som. Agora passou a ser ultrassonografista e os exames que faz passaram a ser ultrassom. Os pacientes, que costumavam esperar para fazer os exames na ante-sala, passarão a esperar na antessala. No momento em que escrevo esta crônica, o computador acusa erro nessas palavras com novas grafias e todas aparecem com grifo em vermelho.

Quanta coisa vai ter que mudar com essa reforma! Os programas de computador terão de ser atualizados. Os dicionários, gramáticas e manuais de redação, estão automaticamente obsoletos. Teremos de jogar tudo fora e adquirir novos! Então, descubro a quem interessa a reforma ortográfica. Todo mundo será obrigado a gastos extras com novas gramáticas, manuais de redação e dicionários. Sempre o comércio...

Mas... e a cabecinha das crianças, como fica? Aprenderam na escola a ser anti-racistas e a fazer lições extra-escolares. Agora aprenderão a ser antirracistas e farão lições extraescolares. Meus cães e gatos, que tomavam vacina anti-rábica todo ano, passarão a tomar vacina antirrábica a partir da reforma ortográfica. E meu gatinho, que era anti-social e sempre se escondia quando chegava alguém estranho, continuará a se esconder, mas agora seu comportamento passa a ser antissocial. E eu, que costumava escrever ultra-rápido, serei mais lenta de agora em diante porque para ser ultrarrapida (nova grafia da palavra), terei que consultar dicionários antes de escrever.

Como vegetariana que sou, já não comia há décadas o contra-filé.

Continuarei a não comer, só que agora é contrafilé. E depois das refeições vegetarianas, usarei um creme dental anticárie ao invés do anti-cárie que usava antes. O time de futebol de Piracicaba, o XV de Novembro, defendia as cores alvi-negras. Agora, passará a defender a camisa alvinegra (fiquem atentos repórteres dos cadernos de esportes!). E atenção cirurgiões-dentistas! Agora se escreve bucomaxilofacial ao invés de buco-maxilo-facial. E os engenheiros e arquitetos, ao montarem seus anteprojetos (e não mais ante-projetos) devem tomar cuidado ao escrever hidro-sanitário, que passa a ser hidrossanitário.

Na verdade, essas novas normas ortográficas, aprovadas por lei, já deveriam estar em vigor desde janeiro de 2007, mas ainda não vi ninguém utilizando corretamente a nova nomenclatura na prática.

Creio que deve haver um período de transição, no qual devem ainda ser aceitas as antigas formas de escrever as palavras. Quanto aos vestibulares, não sei qual regra prevalecerá, a antiga ou a nova. Ou ambas... Que confusão! O que será que diz de tudo isso o professor Pasquale? E o meu ex-professor de português, o Cocenza? Eu acho que ele ainda era “pharmacêutico” antes de algumas das reformas ortográficas que só servem para deixar todo mundo atrapalhado.

Ivana Maria França de Negri é escritora.

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