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domingo, 10 de abril de 2011

Gota de uma nuvem negra

Lembro-me do cheiro que exalava a terra seca


Ao ser tocada por uma gota de chuva.

Dos cantos dos pássaros que transmitiam

Suas alegrias em forma de música



Vi os animais correndo de um lado ao outro

Juntos como se fosse dança

Nos rachões do chão corriam rios que se encontravam

E desaguavam no mar de minha esperança



O azul belo e triste do céu foi tomado

Por nuvens negras feitas pra chorar

Como um passe de mágica, vi um cinza dá lugar ao verde

A terra virá tapete e eu poder plantar



Num instante vi o mandacaru florar

E o aveloz ter suas forças renovadas

A cacimba foi bebendo e o lamento foi cessado

Em meu telhado: bicas d’água



O barro das paredes de minha morada foi se perfumando

Como se fosse incenso

Ajoelhado à imagem de Cristo menino

Chorei sorrindo em pleno agradecimento.



Pela enxada enlameada

ao cultivar o roçado

Pela cacimba com água

pra dar ao gado

Pelo verde do umbuzeiro

Pela rede e o candeeiro

Um balancer entre afagos



A lenha no quintal encharcada,

não é motivo de lamentação

Prefiro a lenha sem utilidade,

do que te-la e não ter feijão

Meu teto num tem modernidade

Um cheiro no cangote da veia a tarde

Só um radin de pilha é diversão



Minha vida é simples, sou trabalhador brasileiro

Pião com jibão tangendo garrote

Chamado de home do campo, valente sertanejo

Pião de boiadeiro, nordestino forte



Minha geladeira é um pote de barro

A água resfria, mas não gela

Se a dispensa estiver vazia, sem prato

Junto uns trocado e vou na bodega



Escambo do norte. Eu troco a saca de milho

Por farinha, sequilho, soda e manteiga

Andando uma légua e logo eu avisto

Que dia de domingo é dia de feira



Engraçado como a chuva nos traz felicidade

Minha parede tem imagem fazendo oração

Mesmo na seca alegria me invade

É a face da esperança e da fé no sertão



Aqui me despeço em verso fazendo reza

Pela prosa singela, milagre e beleza

Pela vida do céu que traz vida a terra

Obrigado pela gota de chuva daquela nuvem negra.





Poesia do livro "Coletânea escrita - Aborígine Incita"

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