sexta-feira, 24 de abril de 2009
DANÇAR DE ROSTO COLADO
DANÇAR DE ROSTO COLADO
Rosto colado é coisa que os jovens de hoje não conhecem como preliminares de um ato de sedução.
Nesses bailes de antigamente
(que palavra dolorosa!),
os jovens rastreavam o salão em busca da garota ideal para iniciar um romance.
Caso ela fosse localizada na mesa com os pais,
nossas pernas tremiam.
Uma cuba libre talvez fosse o combustível para encorajar o ato de atravessar o salão e chegar na mesa com o convite, formalismo,
"vamos dançar?"
O "sim" dela poderia significar que também queria dançar, pois os olhos já tinham se cruzado num momento do baile,
mas poderia ser apenas o "sim" formal para não dar um "cano" no rapaz audacioso.
Neste último caso, a regra que a jovem aprendeu em casa com a mãe casamenteira,
era dançar no máximo três para não significar que havia outro interesse a não ser o da boa educação.
No entanto, se "pintasse um clima"
ai, Jesus! –
as danças se prolongariam por todo o baile e, na hora exata, os rostos se colavam e a sedução começava com uma conversa de ouvido.
O ato de seduzir transformava-se numa enciclopédia romântica que valia até mentiras ingênuas.
Corta para 2009..
Não há mais rosto colado, não há mais bailes, os conjuntos melódicos são apenas boas lembranças e os clubes estão fechando seus salões que tinham a sua boate para os jovens.
O beijo roubado, quando as luzes diminuíam de intensidade, era, talvez, o único da noite.
Hoje, as garotas ficam apostando quem beija mais garotos numa noite
e vulgarizou-se o ato mais sublime de um início de conquista.
O baile funk, mais que uma reunião dos jovens de hoje, é um convescote de traficantes em busca de novos babacas para o início de uma vida de vícios.
Vale o mesmo para a festa reive e os incidentes estão aí na imprensa para que o colunista não passe por um "velho recalcado".
A sedução transformou-se em agressão sexual, para ambos os lados.
Sem crack, sem pó, sem baseado, não há sequer uma aproximação de pessoas de sexo diferente.
Rosto colado nem mesmo quando o DJ aposta em algo lento para descansar os dedos.
Não se dança mais, os requebros e os pulos substituíram os passos cadenciados.
O barulho do bate-estaca acabou com o diálogo.
Sem diálogo não há sedução.
Fim de papo.
Está bem, somos velhos quando falamos em "rosto colado".
Mas ninguém pode roubar de nossa memória um tempo mágico onde o cavalheirismo de uma dança fazia-nos flutuar por salões com pessoas especiais.
E quem não dançou uma vez na vida de rosto colado não sabe o que perdeu.
(Rogério Mendellsk)
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