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sexta-feira, 5 de junho de 2009

O maestro Silvio Barbato


Por Andreas Kisser, colunista do Yahoo! Brasil


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O acidente com o avião da Air France que ocorreu nesta semana foi chocante, aliás sempre um acidente aéreo é muito chocante, principalmente porque muita gente utiliza o transporte aéreo hoje em dia. Mas um nome confirmado na lista de passageiros do voo 447 me deixou em choque, era um conhecido, uma recente e crescente amizade: o maestro Silvio Barbato.



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Conheci o maestro há mais ou menos três anos, quando fui convidado a participar de um evento no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Vários músicos estava no evento, que apoiava, principalmente, a inclusão da música no currículo escolar. O maestro Barbato regeu uma orquestra de jovens pobres de diferentes partes mais do Brasil, escolhidos pelo próprio maestro, uma preocupação social e um projeto que ele tinha um grande prazer em organizar.


Nós fizemos um tema do compositor Heitor Villa-Lobos, "O Trenzinho do Caipira", uma das obras mais conhecidas do grande mestre da nossa música erudita, com a guitarra fazendo a melodia principal e a orquestra acompanhando. Foi magistral, eu lembro da empolgação do Silvio com aquela junção da guitarra distorcida e pesada com os intrumentos de uma orquestra. Foi uma sensação fantástica.







Eu comecei a admirar muito o maestro por sua postura em relação à música. Geralmente, grandes maestros não são favoráveis à junção da música erudita com outros estilos. Na verdade, existe um grande preconceito por parte deles, muitos desprezam outras maneiras de expressão musical. O Silvio não. Ele era muita aberto a novos experimentos, mantendo a classe e a técnica da música erudita, mas sempre buscando novos caminhos. Ele me deixou muito à vontade e, apesar de ter sido a primeira vez que eu tocava com uma orquestra, estava muito confiante. Foi uma experiência inesquecível!


Depois deste concerto, tocamos novamente em Brasília, durante comemoração de 200 anos do jornal Correio Brazilense, que foi também uma homenagem ao tenor Luciano Pavarotti. Foi uma grande noite, além do tema do Villa-Lobos, tocamos também "Ave Maria" de Shubert, tema que Pavarotti cantava como ninguém.


Eu e o maestro Sílvio Barbato estávamos preparando um concerto, com guitarra e orquestra, que seria isnpirado na floresta amazônica, tema sempre muito atual e brasileiro. Desde o ano passado, ja escrevíamos algumas ideias e procurávamos patrocínio para a empreitada.


A última vez que vi o maestro foi na sexta-feira, dias antes do acidente, no show que o Sepultura fez no Canecão, no Rio de Janeiro. Ele estava muito animado porque tinha encontrado pessoas que poderiam patrocinar o nosso projeto. Nos falamos depois do show nos camarins e ele partiu para se preparar para a sua viagem, corriqueira, à Europa.


Fica a saudade e o exemplo de um homem da música a serviço da música. Foi um privilégio conhecê-lo e poder ter trabalhado junto com este grande maestro.





Deixo também algumas informações sobre o maestro Silvio Barbato.


- Diretor Musical e Regente Titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro em Brasília e Regente Titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Silvio Barbato estudou composição e regência com Claudio Santoro.


- No Conservatório Giuseppe Verdi, em Milão, recebeu o Diploma de Alta Composição na classe de Azio Corghi. Ainda na Itália freqüentou a classe de Franco Ferrara, colaborando com o maestro Romano Gandolfi no Teatro Alla Scala. Em Chicago, realizou seu PhD em Ópera Italiana sob a orientação de Philip Gossett.


- No Teatro Nacional Claudio Santoro está na sua nona temporada como Diretor Musical. Com a Orquestra do Teatro regeu concertos em Roma (Piazza Navona), Lisboa (Mosteiro dos Jerônimos), nos Teatros Municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro e em diversas capitais brasileiras. Suas gravações com a Orquestra incluem as Sinfonias Brasil - 500 Anos e os Clássicos do Samba, com Jamelão, Ivone Lara e Martinho da Vila.


- Entre seus trabalhos com artistas internacionais, destacam-se: Aprile Millo, Montserrat Caballé, e Roberto Alagna e Angela Gheorghiu.
No centenário de Carlos Gomes, a convite de Placido Domingo, foi o curador da ópera "O Guarani", que abriu a temporada da Washington Opera.


- Diretor musical do filme "Villa Lobos, Uma Vida de Paixão", foi premiado com o "Grande Prêmio Brasil de Cinema 2001", na categoria de melhor trilha musical. Em 2003 compôs o balé "Terra Brasilis" que se apresentará, ainda em 2004, na Itália.

- Pelo trabalho que vem realizando na área cultural, Silvio Barbato recebeu inúmeras condecorações do governo brasileiro, tendo sido promovido ao grau de Comendador da Ordem do Rio Branco, além de ter recebido a Medalha do Mérito Cultural da Presidência da República.

- O maestro ainda se apresenta regularmente como regente convidado de diversas orquestras européias e americanas. Neste ano, é presença garantida no Festival de Spoletto (EUA) com uma nova produção de Capuleti e Montecchi, de Bellini. Em julho, no Festival Europeu de Roma rege o Requiem de Verdi.

Abraço
Andreas Kisser

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