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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Biblioteca Bagdá




Ilustração de um manuscrito do século XIII, que mostra uma típica biblioteca medieval em Bagdá



Primórdios da civilizaçãoAs grandes coleções de Bagdá continham testemunhos dos primórdios do que boa parte do mundo enxerga como a civilização. Alguns de seus tesouros datavam de 7.000 anos atrás e continham evidências sobre a primeira e possivelmente a maior conquista da história humana - a invenção da escrita, que aconteceu há 5.000 anos, em algum lugar entre o Tigre e o Eufrates. É verdade que os danos talvez tenham sido menores do que se temeu num primeiro momento e que os arqueólogos podem estudar outros tabletes de argila escavados das ruínas das primeiras bibliotecas do mundo, os tempos sumerianos da Mesopotâmia antiga. Mas não sobrou nada da Biblioteca Nacional do Iraque, que foi queimada até o chão, juntamente com a sede do Ministério de Assuntos Religiosos e sua coleção inestimável de Alcorões, alguns com mais de mil anos de idade. A biblioteca queimada pelos ingleses na Guerra de 1812 tinha sido criada apenas quatro anos antes. Mesmo assim, sua perda causou um trauma nacional, ou pelo menos foi essa a impressão que teve Thomas Jefferson, que tinha forte consciência da contribuição que as bibliotecas podem fazer ao espírito cívico de uma nação.Já em 1791 ele deplorara os danos provocados pela guerra revolucionária ao registro histórico dos EUA. Numa carta a Ebenezer Hazard, que estava prestes a publicar dois volumes de documentos de Estado tirados dos arquivos coloniais, Jefferson escreveu: 'O tempo e o acidente estão causando estragos diários aos originais guardados em nossos gabinetes públicos. A última guerra fez o trabalho de séculos no que diz respeito a isso. As perdas não podem ser recuperadas, mas salvemos o que restou: não com cofres e trancas que o proteja dos olhos e do uso públicos, consignando-o ao desgaste do tempo, mas por meio de uma multiplicação tamanha de suas cópias que o colocará fora do alcance do acidente.'Assim que tomou conhecimento da perda da primeira biblioteca do Congresso, Jefferson se ofereceu a vender à instituição a sua própria, que era duas vezes maior - uma coleção magnífica de 6.487 volumes que seria avaliada, de maneira conservadora, em US$ 23.950. A proposta suscitou alguns discursos partidários sobre 'as bobagens filosóficas e vistosas' - boa parte das quais em francês - que Jefferson tinha colecionado, e a compra foi aprovada pelo Congresso por uma maioria de apenas quatro votos. Mas a Biblioteca do Congresso resiste até hoje como materialização de nossa memória nacional.Imagine uma horda de vândalos queimando e destruindo os Arquivos Nacionais, enquanto um exército estrangeiro estivesse protegendo a sede do FBI e do Depto. do Tesouro, e você pode ter alguma noção de como os iraquianos se sentiram quando as tropas americanas estenderam um cordão protetor em volta dos ministérios do Petróleo e do Interior, ao mesmo tempo em que permitiam que saqueadores destruíssem a Biblioteca Nacional e pilhassem o Museu Nacional por completo. Como muitos observaram, a invasão mongol de 1258 prejudicou a civilização iraquiana menos do que a invasão americana de 2003. Mas talvez Jefferson estivesse enganado. Serão as bibliotecas e os arquivos realmente vitais para a memória de um país? Pode sua destruição provocar uma espécie de amnésia nacional ou até mesmo o fim de uma civilização?

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