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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

História do Maranhão


Historia do Maranhão
Foram os espanhóis os primeiros europeus a chegarem, em 1500, à região onde hoje se encontra o estado do Maranhão. Em 1535, no entanto, verificou-se por parte dos portugueses uma primeira tentativa fracassada de ocupação do território. Foram os franceses que realizaram a ocupação efetiva iniciada em 1612, quando 500 deles chegaram em três navios e fundaram a França Equinocial. Seguiram-se lutas e tréguas entre portugueses e franceses até 1615, quando os primeiros retomaram definitivamente a colônia. Em 1621, foi instituído o estado do Maranhão e Grão-Pará, com o objetivo de melhorar as defesas da costa e os contatos com a metrópole, uma vez que as relações com a capital da colônia, Salvador, localizada na costa leste do oceano Atlântico, eram dificultadas devido às correntes marítimas. Em 1641, os holandeses invadiram a região e ocuparam a ilha de São Luiz, nomeando o povoado em homenagem ao rei Luiz XIII. Três anos depois, foram expulsos pelos portugueses. A separação do Maranhão e Pará veio a ocorrer em 1774, após a consolidação do domínio português na região. A forte influência portuguesa no Maranhão fez com que o estado só aceitasse em 1823, após intervenção armada, a independência do Brasil de Portugal, ocorrida em 7 de setembro de 1822.
No século XVII, a base da economia do estado encontrava-se na produção do açúcar, cravo, canela e pimenta; no século XVIII, surgiram o arroz e o algodão, que vieram a se somar ao açúcar, constituindo-se estes três produtos a base da economia escravocrata do século XIX. Com a abolição da escravatura, a 13 de maio de 1888, o estado enfrentou um período de decadência econômica, do qual viria a se recuperar no final da primeira década do século XX, quando teve início o processo de industrialização, a partir da produção têxtil.
O estado do Maranhão recebeu duas importantes correntes migratórias ao longo do século XX. Nos primeiros anos chegaram sírio-libaneses, que se dedicaram inicialmente ao comércio modesto, passando em seguida a empreendimentos maiores e a dar origem a profissionais liberais e políticos. Entre as décadas de 40 e 60 chegou grande número de migrantes originários do estado do Ceará, em busca de melhores condições de vida na agricultura. Dedicaram-se principalmente à lavoura de arroz, o que fez crescer consideravelmente a produção do estado.
São Luis - A capital do estado do Maranhão foi fundada em 1612, na ilha de São Luiz, às margens da baía de São Marcos, do oceano Atlântico e do estreito dos Mosquitos. Povoada originariamente pelos franceses no século XVII, atualmente sua população compõe-se de aproximadamente 53% de mulheres e 47 % de homens. A economia local baseia-se primordialmente na indústria de transformação de minérios e no comércio.
As principais atrações turísticas da cidade encontram-se na chamada Praia Grande, onde antigos casarões cobertos de azulejos evidenciam a influência portuguesa na arquitetura local. O bairro, restaurado quase por inteiro pelo Projeto Reviver, é ponto cultural de destaque na cidade. Dispõe de teatro, cinema, bares, lanchonetes, restaurantes e serviços para turistas. O Reviver recuperou cerca de 107 mil m2, mais de 200 prédios, substituiu toda a rede elétrica e proibiu o tráfego de veículos. A obra, estimada em US$ 100 milhões, devolveu à Praia Grande o antigo cenário de centro comercial e cultural da cidade do século XIX, quando São Luiz era chamada de Atenas brasileira. Entre os principais locais procurados por turistas encontram-se o Largo do Palácio; o Cais da Sagração, onde costumavam ancorar os navios antigos, que levavam carregamento de açúcar; o Palácio dos Leões, local onde até 1615 funcionou o forte que protegia a capital da França Equinocial e até 1993 era a sede do governo estadual; a Catedral da Sé, construída pelos Jesuítas em 1726; a igreja do Carmo, construída em 1627, uma das mais antigas da cidade; o Museu de Artes Visuais, com trabalhos de artistas maranhenses e azulejos europeus dos séculos XIX e XX; o Museu de Arte Popular, que funciona também como centro de cultura popular; o Teatro Arthur Azevedo, construído entre 1815 e 1817, o primeiro a ser construído em uma capital de estado brasileiro; e a Fonte do Ribeirão (1796), que possui três portões de ferro dando acesso a passagens subterrâneas que servem para escoamento de águas pluviais; a Feira da Praia Grande, que funciona em um prédio do século XIX, exibindo em um de seus portões as armas do Império em relevo. Trata-se do único exemplar em São Luís, que escapou da depredação depois de instituído o regime republicano. Hoje, são comercializados víveres, frutas regionais, artesanato, mariscos e peixes no local.
Existem várias praias cobertas de dunas de areia nas redondezas de São Luiz. Algumas delas apresentam certo perigo a banhistas, devido às ondas que quebram a 7 m de altura. Entre as mais populares encontram-se a praia do Calhau; a de Ponta da Areia, onde se encontram as ruínas do Forte Santo Antonio (1691); de São Marcos, com as ruínas do Forte de São Marcos, do século XVIII; e a praia de Araçaji, uma das mais bonitas dessa faixa litorânea. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, localizado em Primeira Cruz, ainda não possui infra-estrutura para visitantes. Existem 12.010 escolas de ensino básico no estado do Maranhão; 300 escolas de ensino médio; e quatro escolas de nível superior. Em 1995, os analfabetos representavam 32% do total da população.
Indígenas - A população indígena do estado do Maranhão soma 12.238 habitantes, distribuídos entre 16 grupos que vivem numa área total de 1.908.89 hectares. Desse total, aproximadamente 86% (1.644.089 hectares), que representam 14 áreas, já se encontram demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão do Governo Federal(9). Cerca de 14%, que correspondem a 264.000 hectares e incluem apenas duas áreas (Awá e Krikati) ainda estão em processo de demarcação, embora sejam ocupadas pelos índios. O grupo mais numeroso é o dos Araribóia, com população de 3.292 habitantes, que ocupa área de 413.288 hectares, já demarcada pela FUNAI, no município de Amarante. O Cana Brava Guajajara é o segundo grupo em tamanho da população, com 3.143 índios que ocupam 137.329 hectares nos municípios de Barra do Corda e Grajaú.
Por Ilmar R. de Mattos e Daniella Calábria João Francisco Lisboa analisa em seu livro "Apontamentos para a História do Maranhão", de l852, os acontecimentos gerados pelo descontentamento criado pela introdução do estanco - comércio de produtos monopolizados pelo Estado - que tiveram sua culminância na Revolução do Maranhão de l684, episódio conhecido como a "Revolução de Beckman". O objetivo deste trabalho é analisar algumas das significações que Lisboa emprestou a "povo", "moradores", "cidadãos", "plebe" e "turba": a relação entre "povo" e "herói" e seus conceitos de "ordem" e "desordem". Povo é o elemento passivo, apesar de agente da desordem, porque é nele que agem as forças coletivas, não pode controlar as ações, ao contrário, é levado por elas, tornando-se, então, a força incontrolável que irrompe em excessos e conduz à desordem. O sujeito da ação dos eventos narrados é Manuel Beckman, personagem que agrega os valores capazes de lhe conferir a condição de um herói. Mesmo assim, com o desenrolar dos acontecimentos, ele também passará a ser afetado pelas forras coletivas. Mas vejamos como Lisboa se vale do uso do termo "povo", contraposto ao de "moradores", até o momento em que os acontecimentos revolucionários explodem na cidade. Os "moradores" são a elite da cidade enquanto a ordem é mantida e estão claramente separados do "povo. Contudo, a partir do momento em que a opressão a que esses proprietários estão sendo submetidos a partir da introdução do estanco se explicita, esta elite transforma-se, na narrativa de Lisboa, em "Povo". É explícita a identificação do "povo" com uma situação de opressão. Este é o momento em que se alternam as designação de "moradores" e "Povo". Entretanto, este "Povo", constituído pela elite, jamais será igual ao "povo", formado pela plebe. Existe, porém, um termo intermediário nesta transição de "moradores" para "Povo" "cidadão", que surge para designar os moradores uma vez que assumam parte ativa em uma situação política; termo que só permanece enquanto não surgem nenhum tipo de ação identificada com uma subversão da ordem. Isso significa dizer que permanecem cidadãos enquanto se mantêm no âmbito da reflexão , passando a tornar-se"Povo" se partem para a ação propriamente dita. Esta idéia nos permite uma aproximação com as observações de Michelet no livro "O Povo", de l846. Interessante porque, ambos se consideram liberais e poucos anos separam as duas obras. Podemos usar, portanto, algumas chaves presentes em Michelet para interpretar Lisboa. Em ambos os escritores está presente a idéia de que o povo é arrastado por grandes forças coletivas; bem como, a distinção que fazem entre "homens de reflexão", binômio de onde emergirá afigura do herói, ou para usar a denominação de Michelet, do gênio individual. Apesar do povo ser "arrastado pelas grandes forças coletivas", o que Michelet considera mais interessante no povo é a sua capacidade de ação, por esta razão, segundo ele, o maior erro que as pessoas do povo podem cometer é abandonar os "seus instintos" e lançar-se em busca das "abstrações e generalidades", que, inversamente, caracterizam os homens das altas sociedades, que os fazem ser, "homens de reflexão". O intuito de Michelet era resgatar a imagem do povo, porém, na verdade, esse objetivo ia além: ele estava descrevendo uma fórmula para salvação do povo, função esta, que caberia ao gênio individual, o herói: "O povo, em sua concepção mais elevada, dificilmente se encontra no povo. Quer eu o observe aqui ou ali, não se trata dele, mas de uma classe, uma forma parcial do povo, alterada e efêmera. Em sua verdade, em seu poder maior, ele só existe no homem de gênio; neste é que mora a grande alma... Essa voz é a voz do povo; mudo pôr si, ele fala pela boca deste homem..., e nele, finalmente, todos são glorificados e salvos". O limite a que chegou Michelet ao abordar o tema "povo" é revelado pela inversão que faz: ao invés de colocar o homem de gênio no povo, coloca o povo dentro do homem gênio. No caso de Lisboa, o herói, em nenhuma de suas componentes, saí do seio do povo,partilha de elementos comuns com o povo ou o carrega em sua alma, como em Michelet; ao contrário, o herói é uma personagem que atravessa a fronteira entre a elite e o povo e ', é por causa dos valores que, por um lado, o destacam singularmente; e por outro, carregar consigo deberço , que o habilitam a desempenhar este papel. O heroísmo que Beckman representa não está em momento algum a serviço do povo para resgatá-lo de sua posição. Seu heroísmo existe para reagir à injustiça e à opressão que, aliás, são sofridos mais diretamente pelos proprietários submetidos à tiraniado estanco e à proibição do livre comércio. A designação de Povo que Lisboa emprega serve para nomeara elite que está submetida à opressão . O povo identificado com a maior gama da população é indicado mais propriamente pelas designações de turba, multidão ou plebe. A política da Corte, "para não contrariar a prática seguida no Estado em ocasiões semelhantes" era fazer as coisas de modo a que, pelo menos, em aparência se dessem pela aceitação voluntária da parte do povo. O que importava era que não se subvertesse a rotina naquele lugar. A novidade maléfica é a revolução que se anuncia através de uma série de pequenos incidentes que acabam por degenera-se até causar a deflagração da desordem no sistema. É exatamente isto que diz Francisco Lisboa "... em regra as crises natureza nunca deixam de trazer consigo todos os elementos indispensáveis a seu completo desenvolvimento". Esta mentalidade é a marca da permanência e da continuidade mantidas pela Corte como garantia da manutenção de seu poder. As calamidades naturais entram no rol das causas gerais que se acumulam para agir de uma só vez, culminando no processo incontrolável que escapa ao controle humano e leva à revolução. O "povo" é o elemento impulsionado pelas "causas gerais", não possui ação própria, ele é mostrado como uma massa passiva pronta a ser conduzida. É um acidente o estopim que detona a crise - o elemento próprio da situação de desordem, contido naturalmente no processo de degeneração. Este acidente é a aparição da voz que levará atrás de si a multidão: a figura do revolucionário. A multidão sozinha, como já acentuado, jamais poderia levar este processo adiante. Para desempenhar este papel, Beckman sofre um rito de passagem através de um rebaixamento à condição do homem comum, o que se dá quando ele "ata o seu destino ao destino do povo" atravessando a distância que separa a elite privilegiada do homem do povo, passando a participar"da miséria e opressão comuns" sendo, portanto, "dominado e arrastado pelas mesmas idéias e paixões, que eram de todos". Isso faz com que Beckman não possa ter mais total controle da situação. Entretanto, esta situação não é absoluta já que Beckman nunca completa esta transição. Ele fica em uma situação intermediária entre o mundo da elite e o mundo do povo, entre o seu status nobre de "homem de reflexão" e o rebaixamento a "homem de ação". É esta localização especial que o habilita a conduzir as multidões e, sob este aspecto, ele representa o protótipo do herói. A voz de Beckman, o líder, ao conduzir as novas ordens se confunde com a ação da multidão. Sua voz torna-se a própria ação. Mas é também , ao mesmo tempo, pela posição intermediária que ocupa, o elemento de moderação capaz de controlar a selvageria do povo, que a esta altura, já aparece representado totalmente por uma multidão que não possui mais faces identificáveis, é somente "povo", e o "povo" entregue a seu estado completo, torna-se "plebe", e junto com ela, estará sempre presente a perspectiva de violência, permanecendo, entretanto, a separação entre os líderes e o "povo", antepostos como nobres diante da plebe furiosa. Segundo o relato, fica claro que Beckman não teria tido o intento de instalar uma nova ordem, mas, pelo contrário, restaurar a antiga. A manutenção da ordem mínima, surge como um ponto de honra a ser preservado pelos "melhores cidadãos", coisa muito diferente do que poderia fazer a "plebe". Com o passar do tempo, começa a aparecer toda a inconstância do "povo", característica da falta das virtudes identificadas com a firmeza de propósitos e com a tenacidade próprias somente do herói. Gradualmente, a ordem começa a ser restabelecida, e com a normalidade, a rotina. É o retorno do mundo da permanência suplantado o instante fugaz da novidade revolucionária. Está demonstrada a instabilidade do povo, que parece saudar o fim da revolução com o mesmo entusiasmo com que abraçara a sua causa. A moral da história parece querer dizer que o "povo", enfim, ama a normalidade: O início dos infortúnios de Beckman dera-se com o rompimento com o acordo tácito que mantinha as aparências "da aceitação voluntária do povo". A revolução de Lisboa não é alteração radical das bases em que se apoiam a sociedade brasileira, a glória que destaca da revolta do Maranhão não é o fato de haver sido uma revolução, mas o heroísmo de Beckman. Sobre revoluções, Lisboa não as apoia, sua atração pelo tema restringe-se às discussões entre homens ilustrados, entre os "homens de reflexão", lugar onde ele mesmo se situa, e de onde pode encontrar a legitimidade e a justiça de uma revolução, que seria um movimento, como já se disse, voltado, unicamente, contra as injustiças e a falta de liberdade política e econômica para aqueles que identifica como cidadãos. Vai nesse sentido o liberalismo de Lisboa. Poderia parecer absurdo, que Lisboa acabe reverenciando a revolução pela sua moderação, "respeito à vida", à "fazenda" e aos direitos dos adversários". O respeito à "fazenda", serve para diferenciar estas de outras revoltas menos nobres descritas como "simples fatos materiais", enquanto que, por outro lado, uma revolução feita de idéias poderia, facilmente, permanecer restrita aos salões da República das Letras, em perfeito isolamento dos ditames da tão temida necessidade. É ao intelecto que deve estar ligada a revolução e não à necessidade. Esta é a divisão entre "homens e reflexão" e "homens de ação", de que nos fala Michelet, e que parece fornecer os limites do mundo de Francisco Lisboa. Bibliografia Lisboa, J. Francisco. Crônica do Brasil colonial: apontamentos para a história do Maranhão, Petrópolis: Vozes, l976. Michelet, Jules. O Povo, SP: Martins Fontes, l988. O PADRE VIEIRA NO REINO DA MENTIRA Por Voltaire Schilling Padre Vieira ( 1608-1697) Por quase dez anos, de 1652 a 1661, o Padre Vieira viveu no Estado do Maranhão, então província do império luso, numa espécie de exílio. Brigado com a gente da corte, designaram-no, os seus superiores da Companhia de Jesus, a vir a assumir a \" missão do Maranhão\" , que logo ele verificou ser dificílima. Mas o padre Vieira, orador prodigioso, talvez o maior homem das letras portuguesas em todos os tempos, não era de se conter, de contornar, de suavizar. Gigante em terra de anões, Guliver no país de Liliput, ele legou sermões memoráveis, nada digeríveis, desancando os vícios da gente local com sua verve prodigiosa e indignada. A geografia do Diabo \" A verdade que vos digo, é que no Maranhão não há verdade\" Padre Vieira- Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, S.Luís, 1654 Consta numa das tantas lendas que correm sobre o Diabo, lembrada pelo Padre Vieira, que aquele, saindo dos infernos, desabou-se por sobre a Europa. Partiu-se, porém, em pedaços que se espalharam por todos os lados. A cabeça, chifre e tudo, caiu na Espanha, daí os espanhóis terem os miolos quentes, os seus pés caprinos foram parar na França, daí lá gostarem de dançar e de se agitar, enquanto que o ventre satânico foi parar na Alemanha, o que explicava a gula daquele povo, sempre envolvido nos chucrutes, embeiçando-se atrás das partes do porco, cozidas ou assadas, tanto faz. E a língua do demo, indagou o Padre Vieira, onde teria ela ido parar? Supôs que em Portugal. Resultava disso que da Vila do Castelo à Vilamoura, do extremo norte ao extremo sul do reino, imperava aquela mania do falatório, da maledicência, do fuxico e da intriga. Tão prodigiosa era a fartura de palavras ruins em português que um tal de Drexelio, com elas, preparou um Abecedário dos Vícios da Língua. E o que encontraríamos se consultássemos, por exemplo, o verbete dedicado à letra \" M\", o. M. de Maranhão. Ora, respondeu o padre categórico: \" M. de murmurar, M. de motejar, M. de maldizer, M. de malsinar, M. de mexerico\", e , sobretudo, concluiu o grande pregador, \" M. de mentir.\" Na Sibéria de Portugal Bastou estar um pouco mais de um ano naquela parte do Novo Mundo, saído um tanto desterrado de Portugal, para que o Padre Vieira, o Grande, como o chamou com razão o padre André de Barros, entendesse que a costa do Maranhão era um refúgio da mentira. Em 1652, seus inimigos, afastando-o das proximidades do trono português, conseguiram empurrá-lo para dentro de uma nau despachando-o para o outro lado do Atlântico, para os quadrantes da vila de São Luís. Que fosse converter os tapuias, mas que livrasse o rei de conselhos imprudentes. O Maranhão daqueles tempos, estado independente do resto do Brasil desde 1621, diga-se, bem podia passar como a Sibéria do Reino Lusitano. Um litoral imenso, pouco desbravado, que se estendia do Ceará à bocarra do Rio Amazonas, cheio de dunas, mato fechado e desolação. Pouquíssima gente lusitana o habitava, mas muito nativo cor de cobre andava por aqueles sertões. Vieira desembarcou num caldeirão. O Maranhão era um vespeiro no qual os jesuítas enfrentavam diariamente os colonos. O pregador logo constatou que os chamados \" forasteiros\", isto é, os brancos que vinham da Metrópole tentar a vida por aqueles lados, não queriam saber de converter ao cristianismo a boa alma de ninguém. Muito menos a dos tapuias. Que ficassem pagãos. Queriam, isso sim, era o corpo dos índios. Os pés deles para não precisar andar nem lavrar a terra, os braços deles para não necessitar remar nem semear, das costas para delas se servirem como lombo afim de carregar-lhes os trastes e outras vergas. O pescoço , enfim, só servia para por uma canga. Estando eles , os reinóis que governavam a província, bem longe das vistas do rei, tudo sujeitavam e em tudo botavam a mão, porque não faltavam ofícios em que se podia furtar. E, ressaltou, não furtavam com unhas tímidas, mas com as agudas, as que deixam marca.. O Reino da Mentira A hora do padre - furioso, magoado com as rixas constantes - de acertar-se com aquela gente deu-se na Quinta Dominga da Quaresma, em abril do ano de 1654, momento quando, no final da missa, o grande homem reservou-lhes um sermão purgativo. Para ele o Maranhão tornara-se \" o reino da mentira\" , com corte estabelecida na ilha de São Luís. Lá, como no fundo dos mares, não havia solidariedade nenhuma. Tal como entre os crustáceos e os peixes, imperava o canibalismo. Caranguejo devorava o caranguejo e o cação, assim que a maré subia, comia a todos eles. Mas porque era assim? Vieira disse que era o clima. A inconstância de tudo por lá era tamanha que o litoral do Maranhão, a baia de São Luís, era a única no mundo inteiro onde até o sol, tão certeiro em outras latitudes, enganava os pilotos, Olhando o astrolábio, ora ele indicava um grau, ora dois, o resultado era que muitos barcos encalhavam por lá. O que o fez concluir que \" até o céu mentia no Maranhão!\" Muito sol, além de quebrar os laços de solidariedade, gerava a preguiça e o ócio. Este, ao prostrar as gentes, excitava-lhes a imaginação, mãe da mentira. Entre eles, mesmo que pelas duas orelhas escutassem uma verdade, perdida esta no caracol do ouvido, terminavam expelindo uma mentira pela boca. Tudo bem que em outras partes também se mentia. Lisboa, por exemplo. Mas ela era capital de um império. Podia exportar suas mentiras para outros cantos do mundo, para Veneza ou para Calicute. São Luís, pequenina, não. Naquela vila, a mentira não tendo para onde ir alimentava ainda mais outras inverdades. Nasciam e ali ficavam. Lá a mentira dançava de roda. Era por isso, talvez, que o povo local temia a Serpente da Ilha, monstruoso ofídio que diziam dormir ao redor de São Luís e que se algum dia suas presas encontrassem o seu rabo, mordendo a si mesmo, ela se ergueria para devastar com tudo. FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUÍS Francesa ou portuguesa? Artigo polêmico do saudoso historiador José Moreira, publicado no início dos anos 80, defende a tese de que foram os portugueses e não os franceses que verdadeiramente fundaram a cidade de São Luís. Derrotados os franceses em Guaxenduba, de uma maneira fragorosa, ao primeiro confronto com os portugueses e neo-brasileiros, tratou a toda pressa Daniel Ravardiere, de conseguir com o pernambucano Jerônimo de Albuquerque, filho de um nobre português do mesmo nome, cunhado do donatário da Capitania de Pernambuco, com a índia Maria do Espírito Santo e nascida em Olinda, um armistício, durante o qual esperava tirar a forra, através de reforços que esperava de Cancale e Diepe, no canal da Mancha, em França. Acertaram as partes contratantes que seriam enviados embaixadores aos governos de seus países, para resolverem, se continuariam a luta, já que Ravardiere, insistia em dizer que ocupara o Maranhão por ordem de sua rainha a regente Maria de Médicis. Foi uma farsa dos franceses, pois na verdade eles não tinham credencial nenhuma e tanto é verdade , que Maria de Médicis, que reinava em nome de seu filho, ainda menor, Luís XIII, estava ela há muito tempo negociando o casamento dele com a princesa Ana d’Austria, filha de Felipe III, que era portador das coroas Espanha e Portugal. Nutria esse desejo de muito tempo e por isso, não iria autorizar um aventureiro e conhecido pirata Daniel Ravardiere, inimigo da sua religião, a invadir terras que eram da coroa portuguesa, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, homologado pelo Papa Alexandre VI, há 118 anos, isto é, antes da descoberta do Brasil. O Maranhão já tinha tido, até então, vários donatários. Na ilha do Maranhão, já tinha existido a povoação de Nazaré, fundada pelos náufragos remanescentes do afundamento dos navios da expedição colonizadora de Aires da Cunha e isto mesmo foi dito por Jerônimo de Albuquerque e Rararvardiere, como sólido e incontestável argumento de que o Maranhão já pertencia a Portugal, cujos habitantes dessa povoação por falta de meios, uns regressaram a Pátria e outros amasiaram-se com índias, daí surgido uma tribo de índios ferozes, brancos, barbados que foram desimados a ferro e a fogo em Peritoró, muitos anos depois pelos portugueses. Diogo de Campos, embaixador do lado português, ao chegar a Lisboa, levou uma reprimida do vice-rei, que era o arcebispo dali, obrigando-o a regressar imediatamente a Pernambuco, dizendo-lhe que os franceses que ocupavam nossa ilha eram piratas e hereges (protestantes), portanto o tratado de armistício não tinha nenhum valor jurídico. Chegando a Olinda, capital então de Pernambuco, Diogo de Campos foi incorporado como almirante a uma poderosa esquadra, sob o comando de Alexandre de Moura, que imediatamente partiu para o Maranhão, onde chegou expedindo ordens a Jerônimo de Albuquerque que estava aquartelado no forte de Itapari, na baía de São José, que partisse imediatamente a sitiar o Forte de São Luís, pois iria atacá-lo e tomá-lo por mar, Jerônimo de Albuquerque partiu logo e no dia 31 de outubro de 1615, acampou com suas tropas junto a Fonte das Pedras, local onde hoje se encontra o prédio da antiga Fábrica Santa Amélia. A Fonte das Pedras constava de alguns olhos d’água que escorria para o mar que banhava as barracas, na época, onde se encontravam. Alexandre de Moura fundeou sua esquadra na foz do rio Maioba, hoje Anil, em frente ao Forte de São Luís, desembarcando imediatamente tropas especializadas numa ponta da ilha de São Francisco, carregando estacas de faxina, dirigidas pelo engenheiro-mor do Brasil, capitão Francisco Frias de Mesquita, que para isso, havia se oferecido, ganhando apenas o soldo de soldado raso. Ravardiere, covardemente, não esboçou um só gesto de reação intimado a render-se pelo general português, o fez prontamente comparecendo a presença deste. Já conhecia o peso do braço português, mal armado e não iria submeter-se a nova derrota certa, mas sem dúvida, honrosa, perante forças bem nutridas e não como as de Albuquerque que se alimentavam só de farinha de mandioca e caça, mal municiadas. Ravardiere de início, solicitou pagamento de artilharia do forte além de transporte para seus piratas para a Mancha, de cujas cidades eram oriundos o que foi aceito inicialmente, porém, no dia seguinte, 2 de novembro, Alexandre Moura, percebendo a fraqueza e covardia de seu adversário, acrescentou ao termo da rendição mais as seguintes palavras: “ Que hade entregar o Sr. Ravardiere a fortaleza em nome de sua majestade com toda a artilharia, munições, e petrechos de guerra, que nela habitam sem por isso sua Majestade ficar obrigado a lhe pagar nada de sua real fazenda; e não deferindo a isto, torno a quebrar a minha palavra, ficando ele na fortificação e eu a fazer o que for servido; e isto, hoje, quarta-feira”. “ Estoy por el acima declarado por el senor general Alexandro de Moura” e assinou por baixo “Ravardiere”; e por este modo expedito libertou-se o general português das condições estipuladas por Jerônimo de Albuquerque de pagar aos franceses toda a sua artilharia e munições”. Tudo lhe foi imediatamente entregue, os fortes, como os navios da armada, bem como destes, se cedessem três aos inimigos, conforme um dos artigos da capitulação, nos quais voltaram para a França mais de 400, deixando, apenas ficar alguns poucos que se haviam casado com índias da terra, conforme diz João Lisboa. Isso se fez em atenção de serem, os que ficavam, católicos e que podiam ser úteis aos portugueses, porém os holandeses por ocasião em que ocuparam o Maranhão, mataram todos sob a desconfiança de que estariam ajudando os portugueses, durante a luta pela recuperação de nossa terra. Expulsos os franceses do Maranhão, tratou Jerônimo de Albuquerque de fundar a cidade de São Luís, por recomendação da corte de Madrid, sendo enviado Francisco Caldeira Castelo Branco, para fundar a cidade de Belém do Pará. Os franceses durante os três anos e quatro meses que aqui passaram, não trataram de erigir nenhuma cidade, como muita gente supõe. Construíram apenas o Forte que era de madeira e que sete anos após os portugueses erigiram outro de pedra e cal, já com o nome de São Felipe. O engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita, o primeiro que o Maranhão teve, fez o traçado da cidade engenhosamente, aproveitando bem a sinuosidade do terreno. A primeira olaria, como diz Mário Meireles, foi levantada por Albuquerque, porque as poucas casas esparsas, inclusive o forte, eram cobertas com palha de pindoba. Além do forte com um grande barracão, também coberto de palha, para abrigar a guarnição, existia o convento de São Francisco, dos frades dessa ordem, que vieram com Francisco de Rassilly, católico e sócio na pirataria com Ravardiere, este não era nobre como se propala, desconhece-se o grau de sua nobreza, não era barão, visconde, conde, marquês ou duque. Em papelórios a guisa de ata, cujo original ninguém viu, ele figura como “cavaleiro”. Já um de seus sócios de Diepe, é nesse papelório chamado Barão de Molle. Sócio. Sim, porque a expedição foi financiada por esse barão, Francisco de Rassilly, este católico, e os outros protestantes, e nunca pelo Rei, acuados nas margens francesas do Canal da Mancha. Aqui, em São Luís viviam os frades trazidos por Rassilly em desavença com os hereges de Ravardiere e já estavam tramando a deposição deste na chefia. Os franceses viviam distribuídos na ilha, em grupos de 10 pelas 27 aldeias existentes no Maranhão, por falta de habitações em conjunto que formasse. Ao menos, uma povoação em torno do forte, conforme diz Berredo; por necessidade sexual, pois nas aldeias dos índios, os piratas (quando não estavam ausentes da ilha na pilhagem de sua profissão da qual a ilha na pilhagem de sua profissão da qual a ilha ora repositório de seus roubos, como ainda diz aquele autor), tinham as índias com quem se amancebavam. Ravardiere não veio aqui estabelecer uma cidade, pois, tempo teve, mas fixar uma feitoria de piratas, como ainda afirma Berredo, e explorar o terreno a cata de minas e ouro, o que não conseguiu. Ravardiere daqui foi levado preso por Alexandre de Moura para Lisboa, onde esteve guardado no Forte de Belém, à margem direita do Rio Tejo, durante dois anos, segundo uns, e três segundo outros. Se fora um grande senhor, como querem seus afeiçoados fazer, crer, isso não aconteceria, pois Luiz XIII era genro do rei espanhol e de Portugal, Felipe III, que certamente intercederia por ele. Jerônimo de Albuquerque Maranhão, como passou a chamar-se o fundador e construtor da cidade de São Luís, nela faleceu, adotando também sua família o nome de Maranhão. A fundação usam o nome de São Luís, por Jerônimo de Albuquerque, se encontra descrita nos “Anais do Estado do Maranhão” , de Berredo e nas obras a história do nosso Estado de Raimundo Gaioso, Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres, João Lisboa, César Marques, Ferdinand Deniz, este francês, Barbosa de Godóis, Fran Pacheco e Ribeiro do Amaral, de modo incontestável. Em vez de andarem os maranhenses desavisados a tecerem loas e homenagens imerecidas a Ravardiere, o assaltante de nossa indefesa terra, em 1612, o que constitui a mais nefante ingratidão, deveriam as autoridades gravar indelevelmente, num monumento, os nomes daqueles que morreram para que o Maranhão fosse Brasil. Concomitantemente se estendesse até o fim da Amazônia para que todos que hoje vivem e viveram neste solo abençoado, existissem, porque senão fosse o seu sacrifício e sua bravura, não existiríamos nós, os maranhenses, como disse João Lisboa a Gonçalves Dias, mas um povo estranho, falando outra língua, teriam outros costumes, porque queiram ou não, os que pensam o contrário, descendemos mesmos irrefutavelmente dos portugueses, através de brancas, negras e índias. A eles é que devemos honrar, como nossos pais, avós, tetravós etc. A eles, cuja língua falamos, ensinada por eles e os heróis que morreram na Batalha de Guaxenduba que são: Luís de Guevara, natural de Tanger, filho de Gonçalo Guevara, cavaleiro da Ordem de Cristo, homem nobre, natural de Braga; Francisco de Bessa (castelhano), João da Mata, natural do Brasil; Pedro Olivares, de Viana; Amaro de Couto, natural de Lisboa; Bartolomeu Ramires, natural das Ilhas; Manoel de Loureiro, natural de Abrantes; Domingos Correia, natural da Ilha Graciosa. A estes sim competem todas as homenagens do povo maranhense, porque morreram para que nosso povo, hoje existisse e que vivem escondidas nas páginas rarississimamente lidas da “jornada ao Maranhão”, escrita por seu comandante Diogo de Campos Moreno, o único a homenageá-los. Nós porém dizemos: glória eterna a eles, que morreram para que pudéssemos existir... MOREIRA, José. Fundação da cidade de São Luís. Jornal o Estado do Maranhão. 1981, p.6.


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