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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Tentar fazer clones humanos ficou ainda mais fácil



DEBATE JÁ - Revista VEJA - quinta-feira, 27 de agosto de 2009 | 22:12‏




Acho que está na hora de fazer um grande estudo das diretrizes de direito universal quanto a desenvolvimento de clones humanos e consequentes aperfeiçoamentos genéticos. Nada fará a ciência parar, mas bases para orientação do público leigo e limites técnicos para pesquisadores serão necessários para evitar um choque de realidade ainda não aceitável pela esmagadora maioria. Seu blog é o canal mais dentro do assunto para que isso seja debatido.
(Alexandre)

Tentar fazer clones humanos ficou ainda mais fácil



Neste mês, a revista Nature publicou mais uma série de artigos sobre reprogramação de células adultas para que funcionem como as células-tronco embrionárias. Essas células reprogramadas, conhecidas como células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês), são capazes de dar origem a qualquer tipo de tecido. Pela característica polivalente, tanto as células IPS quanto as células-tronco embrionárias podem ser usadas na medicina regenerativa (por exemplo, na recuperação de órgãos e tecidos). Só que, ao contrário das células embrionárias, as IPS podem ser obtidas em laboratório, sem necessidade do embrião.

Os pesquisadores descobriram que o silenciamento (desativação) de um gene específico, o P53, aumenta a eficiência dessa reprogramação da célula, pois uma das funções desse gene é justamente a de impedir modificações. Novamente e surpreendentemente, a mídia deu pouca atenção à descoberta. Acho que não percebeu o impacto dessa e de outras pesquisas recentes. Uma delas demonstrou, pela primeira vez, que é possível clonar um camundongo, a partir de uma célula adulta, sem precisar usar a técnica de clonagem antiga, conhecida como “terapêutica”, que exige a implantação do código genético adulto num óvulo. Basta produzir uma célula IPS e inseri-la num útero. Quem conseguirá evitar que pesquisadores sem ética tentem repetir esse experimento com seres humanos? Ou alertar pessoas dispostas a pagar qualquer preço para ter um descendente, sem avaliar os enormes riscos?

Foi assim com a ovelha Dolly

Quando o cientista Keith Campbell, responsável pela clonagem da ovelha Dolly, veio ao Brasil, há cerca de dois anos, explicou como se sentiu com a repercussão internacional suscitada pelo nascimento do animal. Disse que o primeiro experimento revolucionário, demonstrando que era possível clonar um mamífero, na verdade havia sido publicado uma ano antes. Mas a mídia, na ocasião, não lhe dera atenção. Provavelmente, segundo ele, porque tinham assuntos mais interessantes a tratar.

Qual é a diferença entre clonagem terapêutica e células IPS?

Não custa repetir: ambas as técnicas de clonagem, na prática, têm como objetivo reprogramar células adultas para que se comportem como embrionárias. Na clonagem terapêutica, a célula adulta (ou melhor, o núcleo da célula onde está quase todo o DNA) é inserida em um óvulo sem núcleo. Já no caso das células IPS, não é preciso óvulo nenhum. Basta ativar alguns genes, que na célula adulta estão silenciados, para que elas voltem ao estado embrionário. A expressão “clonagem terapêutica” muitas vezes dificulta a compreensão. O certo seria dizer que é possível reprogramar células adultas para que voltem ao estado embrionário de dois modos:

a) usando-se óvulos - que é a clonagem terapêutica ou

b) sem óvulos - a técnica IPS. Nos dois casos, a célula reprogramada precisa ser inserida em um útero para gerar um clone ou cópia de um animal.

Riscos potenciais são muito maiores

É claro que é muito mais fácil reprogramar uma célula sem usar óvulos, que no caso dos humanos são muito difíceis de serem obtidos. “Qualquer um pode fazer as células IPS”, afirma o jornalista David Cyranoski, também na revista Nature. Para pesquisas relacionadas com diferenciação de tecidos, é o melhor dos mundos. O perigo é o uso dessas células para tentar criar clones humanos. Por enquanto, os cientistas conseguiram clonar só camundongos com a técnica IPS. Mas certamente já deve ter gente por aí experimentando com células humanas. Para isso - o que é assustador - essas pessoas teriam de inserir as células num útero e ver o que acontece. Pelo que já aprendemos de clonagem reprodutiva, os riscos potenciais de se formarem embriões anormais são gigantescos.

O Japão já está preocupado com a regulamentação

O Dr. Shinya Yamanaka, o primeiro a descobrir as famosas células IPS, já propôs uma regulamentação ao governo japonês (ver artigo de David Cyranoski na revista Nature). O ministério de Ciências do Japão enviou a todas as universidades e agências que subsidiam pesquisas científicas uma notificação proibindo a implantação de embriões feitos com células IPS em úteros (humanos ou de animais), a produção de qualquer indivíduo a partir de células IPS ou a produção de células germinativas (que dão origem aos óvulos e aos espermatozoides) derivadas de células IPS.

Poderemos controlar?

A população precisa ser informada sobre os benefícios das novas descobertas, mas também alertada sobre os potenciais riscos. Como você acha que o Brasil deveria atuar? Iniciamos aqui um amplo debate com os vários segmentos da sociedade, como sugere o Alexandre, ou deixamos essa discussão para os cientistas?



Genética
Mayana Zatz
http://veja.abril.com.br/blog/genetica/sem-categoria/debate-ja/

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