quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Troca de olhos d’água: escambo na modernidade
Quem vai para esse evento singular está imbuído do espírito da troca, mesmo que alguns insistam que o dinheiro é a melhor moeda de troca, pois ele pré-estabelece o valor dessa.
Troca de olhos d’água: escambo na modernidade
Por: Sérgio Remaclo
Fica logo ali: a 80 Km daqui (de Brasília). Olhos d’água, distrito de Alexânia (GO).
Ali todas as tribos se encontram: os ‘yuppes’, os transgressores, os conservadores, os iluminados, os sem têmpera, os sinceros e os bêbados. Todos reunidos num ato de permuta humana. Trocar a sisudez pela alegria, o individualismo pelo coletivo, o solitário pelo gregário, o egoísmo pela solidariedade.
Dia de feira: domingo. Na verdade, tudo começa no sábado. Tem música para todos os gostos, tudo é festa: forró, pagode, techno, rap, balada, axé, enfim, todos os sons para o deleite dessa infinidade de tribos, espelho de nossas diferenças, sem por isso deixarmos de ser iguais. A feira acontece duas vezes no ano, sempre no primeiro domingo dos meses de junho e dezembro.
A cidade acorda cedo e desloca-se para a praça da igreja para trocar. O escambo ressurge e retorna a tradição, nossa origem: troca-se de tudo por tudo. Roupas por artesanato, frutas, queijos, doces, legumes, farinha, frango caipira vivo, além de objetos antigos (máquinas de costura e máquinas de moer café, teares etc.). Quem vai para esse evento singular está imbuído do espírito da troca, mesmo que alguns insistam que o dinheiro é a melhor moeda de troca, pois ele pré-estabelece o valor dessa.
E no escambo, qual é o valor de troca? Aí está a chave da negociação: tudo é possível. Pode-se trocar duas camisas por um tapete artesanal belíssimo ou duas camisas e uma calça por uma luminária de vime ou, quem sabe, uma camiseta e uma camisa por um delicioso requeijão caseiro. O que importa é a predisposição para conversar, negociar e consumar a transação. Tudo isso feito de forma bastante poética, sem nunca perder de vista a possibilidade de novas amizades.
Acaba-se a feira, mas fica aquele gostinho bom de encontros, reencontros, achados e escambos. A troca amplia a relação e resgata a possibilidade de transcender os limites impostos pelo valor monetário. Abre-se aí um grande espaço, mesmo que transitório, para repensarmos nossos valores.
Em dezembro tem mais!!!
http://inverta.org/jornal/edicao-impressa/293/cultura/troca-de-olhos-d2019agua-escambo-na-modernidade
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