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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pele manchada pelo vitiligo

Em 1983, Michael Jackson fez uma apresentação histórica num programa para TV em comemoração aos 25 anos da gravadora Motown. Michael cantou Billie Jean e deixou o mundo impressionado com sua dança moonwalk, mostrada pela primeira vez naquela ocasião. Foi nessa mesma apresentação que ele usou pela primeira vez a luva branca que se transformou em uma de suas marcas registradas - e que ilustrou a capa de VEJA logo após sua morte.

De acordo com informações divulgadas na imprensa americana, a idéia original da luva era esconder a pele manchada pelo vitiligo - doença que Michael repetidamente afirmou ter, mas que muitos não acreditaram. Depois da morte, Arnold Klein, seu dermatologista, confirmou publicamente que Michael tinha vitiligo. E agora, com a divulgação de trechos de sua autópsia, não resta dúvida: Michael tinha vitiligo. Ele deve ter se esforçado muito para não mostrar suas lesões ao público.

Estigma social

O vitiligo acerta em cheio o emocional. Apesar de se limitar a descolorir a pele e de não afetar órgãos internos, o efeito psicológico pode ser devastador. Numa sociedade que valoriza a aparência, o portador de vitiligo fica com a autoestima abalada, se sente estigmatizado.

Li um tocante relato a esse respeito, publicado no Journal of the American Academy of Dermatology alguns anos atrás. Escrito por um portador de vitiligo e de diabetes tipo I, leva o título “Lutando e Vivendo com Vitiligo”. A primeira frase é: “Vitiligo é pior que diabetes”. Embora o vitiligo seja uma questão cosmética e o diabetes tipo I seja uma séria questão de saúde, o autor sentia que a dor psicológica causada pelo vitiligo, vivida dia após dia, o massacrava. Considerando que Michael era um astro perfeccionista e obcecado pela aparência, o vitiligo deve ter desgastado muito seu lado emocional.

Os tratamentos

Vitiligo tem tratamento, mas a resposta varia entre os pacientes. Assim, há pessoas que melhoram com tratamentos à base de cremes. Nesse caso, o paciente usa cremes que controlam o sistema imunológico, como cortisona e imunomoduladores tópicos. Também existem cremes que aumentam a sensibilidade da pele ao sol e estimulam a pigmentação, chamados de psoralênicos. Outra opção de tratamento são os psoralênicos por via oral associados a banho de luz. Finalmente, existem tratamentos mais modernos, como o laser e a luz ultravioleta tipo B de banda estreita.

Quando o vitiligo acomete mais da metade da superfície da pele do portador, o tratamento muda de foco. Ao invés de se tentar escurecer as manchas brancas, o objetivo passa a ser clarear a pele não afetada pelo vitiligo. Para isso, existe um creme que destrói as células responsáveis pela pigmentação. A pele tratada com esse creme perde definitivamente sua coloração e fica hipersensível ao sol para sempre. Segundo o médico Arnold Klein, dada a grande extensão do vitiligo de Michael, foi esse o tratamento escolhido.

A luva e o leilão

A luva branca de Michael Jackson escondeu as manchas típicas do vitiligo. E esse artifício virou sucesso absoluto. A luva usada por ele na comemoração da Motown foi leiloada após sua morte. O comprador, de Hong Kong, desembolsou nada menos que 420.000 dólares pela peça de colecionador.

Por Lucia Mandel

Tags: Michael Jackson, vitiligo

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