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terça-feira, 9 de março de 2010

A redescoberta do prazer masculino

A redescoberta do prazer masculino - Parte 1
Novos remédios, tratamentos à base de células-tronco, terapia genética e reposição hormonal, entre outras opções, ajudam os homens a superar as principais dificuldades na cama e a reencontrar a felicidade no sexo
Cilene Pereira, Greice Rodrigues e Wilson Aquino


A redescoberta do prazer masculino: urologista fala sobre três dos principais problemas sexuais entre os homens e explica os tratamentos atuais


Ejaculação precoce: dr. Marcelo Wroclawski explica quais são as razões para o problema que pode atingir de 15 a 20% dos brasileiros

APOIO
Alan já falhou na hora H e contou com a compreensão da parceira. Agora, com a namorada Arielle,
tem a mesma relação de honestidade e cumplicidade

Entre os maiores fantasmas a assombrar a mente masculina está o medo do fracasso na cama. Como explicar à parceira, aos amigos e a si mesmo que falhou na hora H, foi rápido demais na ejaculação ou que simplesmente perdeu o desejo? Difícil, é preciso admitir. Em especial em um país como o Brasil, onde é imensa a cobrança por um desempenho sexual impecável. No entanto, uma ciência robusta, calcada em estudos sólidos sobre o corpo e o comportamento humanos em relação ao sexo, promete tornar esse sofrimento cada vez menor. Ao redor do mundo, espalham-se experimentos destinados a aprimorar o que já existe ou a descobrir novos caminhos para que o homem reencontre o prazer sexual. E, para felicidade de todos, homens e mulheres, grande parte deles com bons resultados. A atenção maior dos cientistas con­centra-se em formular saídas para a disfunção erétil, o nome médico da impotência. A razão é simples. Estima-se que nada menos do que metade dos homens entre 40 e 70 anos sofra de algum grau de dificuldade de ereção em determinado momento. Hoje, todos desfrutam de opções eficazes. As mais conhecidas são as drogas Viagra, do laboratório Pfizer, Levitra, da GlaxoSmithKline, e Cialis, da Eli Lilly. Mais recentemente, os brasileiros ganharam a primeira medicação nacional para a disfunção: o Helleva, do laboratório Cristália. “É mais uma opção, que ajuda a democratizar o acesso ao prazer”, diz Ogari Pacheco, presidente do Cristália.



Esses remédios são indicados para homens com problemas orgânicos não muito graves, mas que atrapalham o mecanismo da ereção. Basicamente, ela é a resposta do pênis a um estímulo sexual. Iniciado no cérebro, que determina as reações ao estímulo, o processo termina com uma abundante irrigação sanguínea no pênis e seu entumescimento. Quando há algo errado – seja nos nervos por onde passam os sinais enviados pelo cérebro, seja nos vasos sanguíneos, por exemplo –, não há ereção ou ela não é boa o suficiente para o ato sexual. Incentivada pelas vendas fantásticas desta classe de drogas – no Brasil, está entre as dez mais vendidas –, a indústria farmacêutica prepara o lançamento de mais opções. A Pfizer estuda a possibilidade de lançar um genérico do Viagra cuja patente no Brasil termina em junho do ano que vem. Na Ásia, a empresa Dong-A Pharmaceutical está encerrando os testes com o udenafil, droga que, diferentemente das disponíveis, deve ser tomada uma vez ao dia. Nos EUA, o laboratório Vivus divulgou, há um mês, os bons resultados que obteve com outra medicação, o avanafil. O remédio atuaria 15 minutos depois de ingerido, o que seria mais rápido do que os disponíveis no mercado. “Talvez isto ocorra porque, aparentemente, a droga circula no corpo por menos tempo, permanecendo ativa por cerca de seis horas”, afirma o urologista Marcelo Wroclawski, de São Paulo. “Mas sobre esta droga foram relatados os mesmos efeitos adversos causados por outras da mesma classe. Entre eles, dor de cabeça e congestão nasal.” Ainda no campo dos medicamentos, na semana passada a empresa Global Health Ventures anunciou que iniciará os estudos da droga X-Excite em humanos. Trata-se de um comprimido sublingual que, segundo a companhia, age em cinco minutos e tem duração de quatro horas. Outros caminhos – longe dos remédios – também estão sendo abertos. No Brasil, acaba de chegar um modelo mais moderno de prótese peniana inflável – indicado para casos mais graves. Entre outras características está a facilidade na sua manipulação.


ESTUDO
Troncone investiga veneno de aranha contra impotência

“Com apenas um toque o paciente pode deixá-la flácida”, explica o urologista Celso Gromatzky, de São Paulo, responsável pela implantação de uma das duas próteses do modelo colocadas até agora no País. “Antes, o homem precisava ficar acionando continuamente uma trava até a flacidez completa.” Além disso, a prótese aumenta de comprimento e de diâmetro à medida que a rigidez ocorre, o que torna o processo mais semelhante ao mecanismo normal de ereção. Em Israel, pesquisadores da Rambam Medical Center avaliam uma estratégia inusitada: a aplicação, no pênis, por alguns minutos, de choques elétricos leves. A ideia é de que a energia melhoraria o funcionamento dos vasos sanguíneos que irrigam o órgão, facilitando a ereção. “Este método funciona em pequenos vasos do coração”, explicou Yoram Vardi, coordenador do experimento. “Imaginamos que poderia funcionar também no pênis.” A técnica foi testada em 20 homens com disfunção moderada a severa.



Segundo os cientistas, 15 deles manifestaram melhora na qualidade da ereção até seis meses depois das aplicações – feitas duas vezes, durante três semanas. No Albert Einstein College of Medicine Yeshiva University (EUA), os cientistas apostam em um creme com nanopartículas – partículas um bilhão de vezes menor do que um metro e que penetram profundamente na pele. No caso do produto em desenvolvimento, elas contêm óxido nítrico, substância que relaxa os vasos sanguíneos, permitindo melhor irrigação na região. A maioria das cobaias apresentou boas respostas. “E elas ocorreram em minutos, que é o que as pessoas esperam de um tratamento”, disse à ISTOÉ Kelvin Davies, um dos coordenadores do trabalho.





A redescoberta do prazer masculino - Parte 2
Novos remédios, tratamentos à base de células-tronco, terapia genética e reposição hormonal, entre outras opções, ajudam os homens a superar as principais dificuldades na cama e a reencontrar a felicidade no sexo
Cilene Pereira, Greice Rodrigues

Os cientistas planejam iniciar os testes em humanos em dois anos. Também nos EUA, um grupo da Universidade da Califórnia investiga a eficácia das células-tronco, capazes de se transformar em qualquer tecido do organismo. Nesse caso, o objetivo é fazer com que elas melhorem as funções do pênis. Para isso, foram aplicadas nos pênis de 22 ratos com lesões vasculares. Depois de três semanas, verificou-se que o fluxo sanguíneo estava melhor e que houve um aumento na fabricação do óxido nítrico. “Os resultados foram encorajadores”, disse à ISTOÉ Maurice Garcia, um dos envolvidos no trabalho. “Agora queremos entender como as células causam esse efeito.” Os pesquisadores da Wake Forest University Baptist Medical Center’s Institute for Regenerative Medicine estão seguindo outra abordagem. Eles estão usando a engenharia de tecidos para refazer o tecido peniano. Primeiro, fizeram crescer células musculares e endoteliais (revestem os vasos sanguíneos) tiradas de cobaias (coelhos). Depois, elas foram colocadas em moldes, posteriormente implantados nos animais. Um mês após o implante, um novo tecido começou a se formar. Nos testes, as cobaias manifestaram ereção normal e fertilidade preservada. “Mais estudos são necessários, mas os resultados mostraram que essa tecnologia tem potencial para o tratamento da disfunção erétil”, afirmou Anthony Atala, diretor do instituto. Há ainda grupos empenhados na criação de tratamentos com terapia genética. Na Universidade de Pittisburgh, o time de Joseph Glorioso, usando cobaias, modificou o conteúdo genético de células do pênis com o objetivo de promover a restauração das conexões nervosas ali presentes, facilitando a transmissão dos dados enviados pelo cérebro. Um mês depois, a melhora era evidente. “Foi uma demonstração de eficácia de um tratamento de longo prazo”, disse Glorioso à ISTOÉ.


RELAÇÃO
Hélio encontrou outro amor e voltou a sentir desejo

No Mount Sinai School of Medicine e na New York University School of Medicine, cientistas testam, em homens, o poder de uma terapia genética para aumentar a produção de proteínas que relaxam a musculatura peniana para que o órgão se encha mais facilmente de sangue. O método foi aplicado em 20 pacientes. “A técnica mostrou ­eficiência e se revelou segura”, disse à ISTOÉ Arnold Melman, coordenador do estudo. No Brasil, o pesquisador Lanfranco Troncone, do Instituto Butantan, em São Paulo, estuda o poder do veneno da aranha armadeira para melhorar a ereção. A suspeita de que poderia ser eficaz se deu a partir da observação de que um dos efeitos da picada do animal é o priapismo (ereção persistente e dolorosa por algumas horas, com ou sem estímulo sexual). A substância da aranha responsável por esse efeito já foi identificada – chama-se eretina. “Agora, queremos entender como ela age”, diz Troncone. Com base nesse conhecimento, será possível criar uma molécula que permita a ereção. Embora menos incidente do que a disfunção erétil, a ejaculação precoce é outra importante causa de sofrimento masculino. O problema atinge 25% dos homens e caracteriza-se por ejaculação que sempre ou quase sempre ocorre antes ou cerca de um minuto após a penetração. “Neste campo também há boas notícias”, diz a psiquiatra Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Hoje, uma das armas mais modernas baseia-se no uso de antidepressivos. Há alguns anos, os médicos observaram que um dos efeitos colaterais dessas medicações era justamente o retardo da ejaculação.


CIÊNCIA
Wroclawski acompanha pesquisas com novas drogas

Depois, aprofundando as investigações, descobriu-se que isso ocorre porque a disfunção parece estar relacionada a desequilíbrios na concentração de serotonina – a mesma substância-chave no desenvolvimento da depressão e sobre a qual atuam também os antidepressivos. De posse desses conhecimentos, o laboratório Janssen acaba de lançar o primeiro remédio específico para ejaculação precoce, a dapoxetina. Por enquanto disponível na Europa e no México, a droga age de forma semelhante aos antidepressivos já utilizados. A principal diferença é que pode ser usada até uma hora antes da relação. “Com isso, esperam-se menos efeitos colaterais, além da menor exposição dos pacientes a medicamentos de uso diário”, explica o urologista Celso Gromatzky. Em testes feitos pelo sexólogo italiano Emmanuele Jannini, da Escola de Sexologia L’Aquila, a droga está se saindo muito bem. Ele acompanha 40 homens, de 30 a 50 anos, que usam o novo remédio. “Houve importante melhora no controle ejaculatório, com aumento do tempo até a ejaculação e consequentes redução da angústia pessoal e elevação do prazer”, disse Jannini à ISTOÉ. Também para esse problema buscam-se estratégias diferentes.



Nos EUA, a empresa Shionogi Pharma está na fase final de desenvolvimento de um spray tópico a ser aplicado sobre o pênis. Chamado por enquanto de PSD502, o produto pode ser usado apenas cinco minutos antes da relação. Nos estudos clínicos, foi capaz de aumentar o tempo de ejaculação de 0,6 minuto para 3,8 minutos. “Submeteremos o produto para aprovação nos EUA ainda este ano”, informou à ISTOÉ Joseph Schepers, diretor de comunicação corporativa da companhia. Se tudo der certo, a novidade estará disponível no mercado americano no ano que vem. Está claro para os médicos, porém, que todo bom tratamento para impotência, ejaculação precoce ou falta de desejo, por exemplo, necessita ser complementado por apoio psicológico. Até porque sabe-se que uma causa importante dessas condições é o desequilíbrio emocional provocado por circunstâncias que vão do cansaço e stress até insegurança em relação ao desempenho. Em boa parte dos casos, esse fator está presente sozinho ou acompanha alguma limitação física. “Por isso, muitas vezes tomar o remédio só não basta”, explica a terapeuta sexual Fátima Moura, de São Paulo.



No Rio de Janeiro, o professor de história da arte Hélio Graça Filho, 48 anos, tem um relato exemplar. Ele não tinha nenhum problema orgânico, mas viu a libido cair quando passou por uma crise no casamento. “A química com a parceira acabou e não sentia estímulo para procurá-la”, conta. Os problemas se agravaram até que, em 2005, eles se separaram. Novamente de bem com a vida, conheceu um novo amor, com quem está casado. “Recuperei a auto-estima e o apetite sexual.” Felizmente, hoje proliferam pelo País serviços de ajuda psicológica aos homens ou ao casal. Um deles está instalado na Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo. O trabalho de psicoterapia é feito de forma individual, de casal ou em grupo. “Verificamos como o homem se relaciona consigo mesmo, com sua parceira e com o que está a sua volta”, explica a psicóloga Margareth dos Reis. Os pacientes também recebem orientações sobre como criar um ambiente satisfatório para uma relação de intimidade, por exemplo. No Rio de Janeiro, no centro da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, os pacientes são encaminhados pelos urologistas. Porém, nem todos concordam facilmente em participar. “Quem tem disfunção sexual se isola”, afirma o psiquiatra José Roberto Muniz, coordenador do serviço. “Ele acha que é o único com problemas e sente vergonha de se expor. É preciso vencer isso e procurar ajuda.”



No entanto, apesar da dificuldade masculina em expressar fragilidades, já é possível avistar o início de uma mudança de comportamento que só trará benefícios: aos poucos – bem aos poucos, é verdade –, eles começam a não ter mais vergonha de falhar ou de não querer fazer sexo. O modelo Alan Malgioglio, 30 anos, por exemplo, já falhou. E, em vez de se sentir constrangido, conversou com a parceira sobre seus medos e sua ansiedade. “Ela entendeu e uma hora depois deu tudo certo.” Hoje, ele namora a produtora de eventos Arielle Alves, 24 anos, e mantém com ela a mesma relação de franqueza. Se não está com vontade, fala. “É preciso entender que o outro pode não estar disponível naquele momento”, diz. Assim, com sinceridade e auxiliado por um imenso arsenal terapêutico a ser usado quando necessário, o homem vai reencontrando seu prazer na cama.



Revista ISTOÉ


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