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domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago

Morre José Saramago (1922 - 2010)
Aos 87 anos, falece o único escritor português a ganhar o prêmio Nobel de Literatura
Monique Cardone


Romancista, jornalista, dramaturgo e poeta, José Saramago morreu às 12h30 desta sexta-feira, em consequência de falência múltipla dos órgãos. O escritor estava em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Segundo o site oficial da Fundação José Saramago, o autor morreu estando acompanhado pela família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila.

Luiz Schwarcz, editor e fundador da Companhia das Letras que publicava os livros de Saramago no Brasil, disse em seu blog como ficou sabendo da morte do amigo.

“Acabo de ver o escritor José Saramago morto. Quando a notícia apareceu na internet, liguei pelo skype para Pilar (esposa do escritor), que sem que eu pedisse me mostrou José deitado na cama, morto. Tenho falado com Pilar quase todos os dias. Sabia que não havia chance de recuperação, o destino de José já estava traçado, os médicos não acreditavam mais na possibilidade de um novo milagre, como o do ano passado, quando venceu, contra todas as expectativas, os problemas pulmonares que o acometiam”, relatou Schwarcz.

José Saramago, além de ganhar o prêmio Nobel de Literatura (1998), é considerado responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Entre suas maiores conquistas também está o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em Portugal.

A ligação com o Brasil ficava evidente nas frequentes visitas ao país e nas amizades com o escritor Jorge amado, com o fotógrafo Sebastião Salgado, com o músico Caetano Veloso e intelectuais, como Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras.

“Saramago era um amigo desde os anos 80. Uma boa e grande amizade que começou em 1981 quando nos conhecemos. Sempre acompanhei o percurso literário dele, mesmo antes de conhecê-lo. Era um escritor excepcional,” disse o historiador muito emocionado.

A admiração por uma das obras do escritor levou o cineasta brasileiro Fernando Meirelles a adaptar “Ensaio sobre a cegueira”, que fala sobre uma epidemia que torna cego os habitantes de uma cidade, para o cinema.

O Ministro da Cultura, Juca Ferreira, divulgou nota de pesar pelo falecimento do autor. “O escritor José Saramago mantinha relações privilegiadas com o Brasil. Esteve presente em diversos eventos literários no país e se tornou muito popular antes mesmo de conquistar o Prêmio Nobel. Em romances como “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, o Brasil faz parte das reflexões do grande escritor.”

O autor português sempre teve muita ligação com a história, seja na vida pessoal, como em seus romancas. Em entrevista exclusiva à RBHN, em 2008, o autor aconselhou aos historiadores: “A imaginação pode ajudar a aproximar do leitor matérias muitas vezes áridas”.

A obra “A História do Cerco de Lisboa”, publicado pela primeira vez em 1987, pode ser interpetrada como uma mistura de ficção e realidade. No romance, Raimundo Silva, revisor de livros, introduz em um tratado de história (intitulado História do Cerco de Lisboa) um erro voluntário: “os cruzados não ajudaram os portugueses a conquistar Lisboa”; apenas inserindo a palavra “não”. Essa falha proposital muda os acontecimentos do conto e, ao mesmo tempo, mostra a capacidade do escritor em modificar com facilidade o que estava consagrado historicamente.

A história do cerco da capital de Portugal, que nos é ensinada na escola, acontece no ano de 1147 e envolve o processo de reconquista cristã da península Ibérica quando os portugueses, com a ajuda das Cruzadas, tomaram a cidades dos mouros.

No decorrer do texto, os vários cercos vão caindo: tanto o histórico da cidade de Lisboa, como o vivido pelo personagem Raimundo. No romance, Saramago escreve com habilidade e emoção entrelaçando literatura e história, como em “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “Jangada de Pedra”.

A história mundial também sempre teve interesse para Saramago e por causa de fatos históricos, como o fascismo e a censura em Portugal, ele foi morar na ilha que fica no meio do Atlântico. A mudança foi motivada porque o livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) apresentava sua visão ortodoxa sobre o messias cristão e o livro foi proibido no país. Em 1992, o governo não inscreveu o romance no Prêmio Literário Europeu porque considerou ofensivo aos católicos portugueses por comparar o nascimento de Jesus ao de qualquer outro homem. E, assim, o escritor abandonou de vez a sua terra.

Os acontecimentos mais recentes também eram alvo das críticas do autor. E causou muitas polêmicas. Em 2002, Saramago visitou a Cisjordânia e no encontrou com Iasser Arafat comparou a ocupação israelense ao Holocausto de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra.

A última publicação de Saramago foi “Caim” (2009) que é um olhar irônico sobre o Velho Testamento e também foi alvejado pela Igreja. Em sua passagem por Roma, em 2009, o autor chamou o Papa Bento XVI de “cínico” e disse que a “insolência reacionária” do catolicismo precisa ser combatida com a “insolência da inteligência viva”.

Além da saudade, o escritor deixa um legado importante para literários, históriadores e fãs de suas obras. Entre tantas relíquias estão os romances “Terra do Pecado” (1947), “Manual de Pintura e Caligrafia” (1977), ” Levantado do Chão” (1980), “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “História do Cerco de Lisboa” (1989), “O evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), “Todos os Nomes” (1997), “A Caverna” (2000), “O Homem Duplicado” (2002), Ensaio Sobre a Lucidez (2004), “As Intermitências da Morte” (2005) e “A Viagem do Elefante” (2008) e “Caim” (2009).

Disponível em: http://rhbn.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3119



José Saramago


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Science-fiction I


Talvez o nosso mundo se convexe
Na matriz positiva doutra esfera.

Talvez no interspaço que medeia
Se permutem secretas migrações.

Talvez a cotovia, quando sobe,
Outros ninhos procure, ou outro sol.

Talvez a cerva branca do meu sonho
Do côncavo rebanho se perdesse.

Talvez do eco dum distante canto
Nascesse a poesia que fazemos.

Talvez só amor seja o que temos,
Talvez a nossa coroa, o nosso manto.


(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)


Remetente: Alicia - alicevilafabiao@mail.telepac.pt

http://www.revista.agulha.nom.br/1saramago.html#sci

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