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domingo, 4 de abril de 2010

Educação Física infantil e desenvolvimento

Educação Física infantil e desenvolvimento
do ritmo motor na infância

*Graduada / Universidade Estadual de Maringá

DEF/UEM – Maringá – Paraná

**Mestranda Programa de Pós Graduação em Educação Física

UEM/UEL/DEF/UEM – Maringá – Paraná

***Prof. Dr. Programa de Pós Graduação em Educação Física

UEM/UEL/DEF/UEM – Maringá – Paraná
Thaís Salgueiro Borges*

Vânia de Fátima Matias de Souza**

Vanildo Rodrigues Pereira***

vfmatias@gmail.com

(Brasil)




Resumo

O presente estudo de revisão bibliográfica, teve como objetivo analisar a influência da prática da Educação Física Infantil sobre o desenvolvimento do ritmo motor na infância. Para tanto, estabeleceu-se os seguintes passos: a) definir a ação e as características da disciplina; b) verificar as características do desenvolvimento motor em suas fases durante a infância; c) descrever capacidade do ritmo motor e os estímulos adequados a partir da Educação Física Infantil e outras oportunidades motoras. Constatou-se que as atividades rítmicas como música, dança, percussão, jogos e outros devem ser estimulados e praticados pelas crianças, assegurando os benefícios ao futuro adulto.

Unitermos: Educação Física infantil. Desenvolvimento motor. Ritmo.

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008
Introdução

A evolução humana, de acordo com Picollo (1992), baseia-se fundamentalmente em sua história física e intelectual, passando desde sua forma de sobrevivência e subsistência até sua forma de se locomover. Baseando-se neste processo de evolução, pode-se iniciar uma rápida análise das mudanças e avanços do homem no seu todo. O homem passou por processos evolutivos bem definidos no seu desenvolvimento motor, como o homo erectus, que se locomovia semelhante a um animal quadrúpede, até chegar ao homo sapiens que já possuía quase todas as características do homem atual. Mesmo assim, não se pode afirmar que o homem já tenha alcançado um ápice evolutivo, ao contrário, esta seria apenas mais uma etapa dentro de uma longa e lenta história da evolução humana.

Assim, ao analisar a história humana, percebe-se, como diz Fonseca (1988), que o homem está ligado diretamente a um complexo e enorme processo de evolução motora, quer seja de forma intelectual, quer de forma física.

Existe uma estreita relação entre as etapas históricas de evolução humana e as etapas de desenvolvimento do homem desde seu nascimento até a vida adulta. O caminho que uma criança percorre desde que começa a deixar de ser bebê, por volta dos dois anos de idade, até começar a se transformar em adulto, na puberdade, está relacionado tanto às suas condições biológicas como àquelas proporcionadas pelo espaço social em que vive. Ou seja, a influência deixada pela herança cultural e genética do homem na sua evolução, molda e aprimora o seu desenvolvimento. Durante o período que vai desde o nascimento até a vida adulta, o homem passa por um período de desenvolvimento motor que começa na sua vida neonatal (DHEINZELIN e LIMA, 1991).

O estudo do desenvolvimento humano, de forma geral, na visão de Tani et al. (1988), recebeu grande atenção principalmente a partir do ano de 1920, quando o bebê e a criança foram alvos de muitas investigações, de muitos estudos. Entretanto, o desenvolvimento motor, particularmente, recebeu até alguns anos atrás um tratamento superficial em publicações relacionadas com o desenvolvimento humano. Isto criou um conceito de desenvolvimento motor como sendo um processo natural e progressivo, que acontece sem a necessidade de uma preocupação específica no sentido de preparar um ambiente que o favoreça. Essa idéia deixou de fazer sentido, uma vez que cada vez mais se consegue entender e constatar a importância dos movimentos e atos motores em interação com o meio ambiente para o desenvolvimento das crianças.

Atualmente, o desenvolvimento motor tem sido entendido como as mudanças que ocorrem num indivíduo desde a sua concepção até a sua morte. O próprio termo desenvolvimento em si implica em mudanças comportamentais e estruturais dos seres vivos no tempo. Representa o surgimento e o melhoramento no nível de controle da criança, na execução de suas habilidades segundo (GALLARDO, 2000).

A mesma linha de raciocínio é seguida por Tani et al (1988), que caracterizam o desenvolvimento motor pelo refinamento e diversificação das habilidades básicas e, conseqüentemente, pelo aumento na quantidade e complexidade no comportamento. A criança adquire primeiro o padrão fundamental e, com base nesse padrão, desenvolve novas formas mais complexas e diversificadas do comportamento.

Da mesma forma, Ferreira Neto (1995), afirma que a atividade motora evolui dos movimentos simples para movimentos mais complexos devido a um processo de desenvolvimento do tônus muscular e de criação de novas ligações neurológicas.

De acordo com Harrow (1983), o desenvolvimento motor segue uma seqüência, passando pelos seguintes níveis: movimentos reflexos, que são ações involuntárias, funcionais já ao nascimento e que se desenvolvem pela maturação e são os precursores dos movimentos fundamentais. Os movimentos básicos ou fundamentais: desenvolvem-se naturalmente, com a exploração e a prática da criança. Essa fase é o período crítico para que as formas motoras básicas sejam desenvolvidas corretamente na criança. Dessa maneira, as atividades pré-escolares devem fundamentar-se nas formas motoras básicas desenvolvidas pela educação física, favorecendo assim o desenvolvimento das crianças. Engloba as seguintes categorias: movimentos locomotores, não-locomotores e manipulativos, como por exemplo, rastejar, engatinhar, escorregar, andar, correr, pular saltar, rolar, chutar, entre outros.

Bee (1981), cita que alguns fatores podem influenciar o desenvolvimento motor, tais como, a maturação, a hereditariedade e o ambiente.

Harrow (1983), ressalta que o sucesso do desenvolvimento motor não depende da precocidade de experiências motoras, mas sim da possibilidade de que as tenham. Neste sentido, a educação física deve explorar diferentes movimentos para os mesmos objetivos e vice-versa, ou seja, os mesmos movimentos para diferentes objetivos.

Seguindo o mesmo raciocínio, Tani et al. (1988), afirmam que o desenvolvimento motor adequado da criança não depende exclusivamente da atuação da educação física, mas a identificação destes fatores auxilia a definição de uma ação mais efetiva que possa ser desenvolvida pela educação física no sentido de favorecer ao máximo o desenvolvimento de todas as crianças, trabalhando para que através do movimento possa contribuir com o desenvolvimento pleno de todos os aspectos envolvidos na psicomotricidade humana, como, o esquema corporal, coordenação motora, percepção espacial e temporal e, especialmente o ritmo.

Gandara (1985), complementa afirmando que, na educação física, o ritmo constitui a coordenação motora e a integração funcional de todas as forças estruturadoras, tanto corporal como psíquica e espiritual. Sendo assim, o ritmo é um aspecto que merece atenção especial na Educação Física Infantil, sendo responsável pelo adequado desenvolvimento motor das crianças.

Dentro desta perspectiva, as vantagens trazidas pelo ritmo possuem características não apenas motoras, mas também sociais, afetivas e culturais, constituindo-se, dessa maneira, em uma das formas de aprendizado mais eficientes e necessárias na Educação Física Infantil.

Os aspectos referentes à Educação Física Infantil e ao desenvolvimento do ritmo motor na Infância, devem ser amplamente conhecidos pelo profissional de educação física, de forma que este utilize de maneira mais adequada todas as características do ritmo e suas formas mais eficientes de aplicação.

Desenvolvimento psicomotor da criança

A psicomotricidade, de acordo com Coste (1981), é uma técnica em que se cruzam e se encontram múltiplos pontos de vista, e que utiliza as aquisições de numerosas ciências constituídas, como a biologia, psicanálise, sociologia e lingüística, com o objetivo de desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo.

Hurtado (1985, p.33) afirma que

[...] a educação psicomotora deve adequar-se aos níveis evolutivos de maturação biológica apresentados pela criança no momento da aplicação dos objetivos comportamentais, e à variedade de conteúdos ordenada em seqüências hierárquicas, das mais simples para as mais complexas.

O crescimento físico se relaciona diretamente com o desenvolvimento motor, pois é através do crescimento e da maturação biológica que se determinará em que nível se encontra a criança, com relação ao seu desenvolvimento psicomotor.

Considerando-se a importância da ação psicomotora sobre a organização da personalidade da criança, torna-se indispensável um trabalho educativo que promova um melhor desenvolvimento de suas potencialidades, levando-se em conta os objetivos propostos e as atividades relativas à idade da criança, adaptando-as às suas características.

A aprendizagem motora, conforme assinalam Tani et al (1988), pode ser definida como sendo uma mudança na capacidade do indivíduo para executar uma habilidade motora, que deve ser inferida de uma melhoria relativamente permanente no desempenho, como resultado da prática ou de experiência. Ela tem como objetivo investigar as mudanças no comportamento motor do indivíduo, observando os mecanismos e as variáveis responsáveis por estas mudanças.

Araújo (1992) lembra que é necessário trabalhar efetivamente com os seguintes aspectos: esquema corporal, coordenação, percepção espacial e percepção temporal, os quais serão abordados a seguir.

Esquema Corporal

De acordo com Le Boulch apud Araújo (1992, p. 32):

[...] o esquema corporal ou imagem do corpo pode ser considerado como uma intuição de conjunto ou um conhecimento imediato que temos do nosso corpo em posição estática ou em movimento, na relação de suas diferentes partes entre si e sobretudo nas relações com o espaço e os objetos que nos circundam.

De acordo com Coste (1981), até o fim do primeiro ano de vida, o bebê aprende a eliminar todos os comportamentos que não lhe são proveitosos, estabelecendo ligações entre os seus movimentos e sua sensibilidade. A partir dos dezoito meses, a criança atinge o período das personalidades intercambiadas, em que ela é sujeito e objeto da ação. Dessa maneira, o sujeito se constitui pouco a pouco, distinguindo-se das coisas e do resto do mundo que progressivamente dominará.

Desde o nascimento até os dois meses de idade, as ações da criança são estritamente sensoriais e motoras, representando assim um comportamento automático e reflexo, dominado pelas necessidades orgânicas e ritmados pela alternância alimentação-sono (ARAÚJO, 1992, p.33).

Após os três anos de idade, a criança será submetida a uma evolução rápida no plano de percepção. A criança toma consciência de suas características corporais e as verbaliza, produzindo ações que tornarão possível melhor dissociação de movimentos. Ou seja, a evolução é marcada por uma progressiva conscientização do próprio corpo.

Este mesmo autor refere que, a partir dos sete anos de idade, a criança poderá representar mentalmente seu corpo diante de uma seqüência de movimentos e controlar voluntariamente seus gestos desnecessários, numa fase caracterizada pela estruturação do esquema corporal.

Refere ainda que dentro das atividades que norteiam o trabalho de esquema corporal, deve-se considerar exercícios que estimulem a criança a:

exercer certo controle tônico durante determinados deslocamentos, manipulações e movimentos;

descobrir e tomar consciência das diferentes partes do corpo através de exercícios que possibilitem movimentar e utilizar as partes do corpo de diversas maneiras;

imitar gestos e atitudes, utilizando para isto somente a informação visual;

afirmar a lateralidade durante atividades espontâneas e exercícios de tomada de consciência do próprio corpo;

estabelecer relações espaciais entre as diferentes partes do corpo com o objetivo de alcançar um melhor conhecimento dos eixos corporais.

A estimulação ao trabalho de esquema corporal deve ser fundamentada por uma ação educativa que facilite o desenvolvimento da personalidade da criança, para conduzi-la a uma autonomia de atitudes.

Coordenação Motora

De acordo com Gallardo (2000, p.31), a coordenação motora pode ser definida como sendo “a atuação conjunta do sistema nervoso central e da musculatura esquelética, na execução de um movimento”. Ou ainda, é a ação conjunta e harmônica de músculos, nervos e sentidos (motricidade voluntária), e reações rápidas adaptadas às situações de sobrevivência dentro do meio ambiente (motricidade reflexa).

A coordenação é a direção significativa do movimento, a concretização de uma intenção ou o encadeamento significativo da conduta. No início, os movimentos da criança apresentam-se de forma global, sem harmonia, quase sempre assimétricos. Entretanto, por meio de atividades que ajudarão na descoberta do corpo e de suas diferentes partes, aos poucos começará a produzir movimentos que se caracterizam por uma maior fineza e eficiência.

Percepção Espacial

A percepção espacial, na concepção de De Meur & Staes apud Araújo (1992, p.36) é “a tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas e coisas”.

De acordo com Coste (1981), nas primeiras aquisições no transcurso do estágio sensório motor, até os 18 meses de idade, é que se elabora o essencial das noções espaciais. Logo após a criança começa a se projetar no espaço e descobrir que faz parte deste espaço, começando também a integração das estruturas espaciais, ou seja, alto, baixo, perto, longe, que constituem os conceitos da representação espacial onde são empregados movimentos relacionados ao corpo.

Perceber um espaço significa a compreensão de um objeto e do lugar no espaço, em seguida relacionando-se a avaliação da distância e do tamanho (dimensões), ou seja, fazer com que a criança possa compreender o espaço tridimensional em que se move, da sala onde está até a idéia do espaço anterior.

Ainda segundo Coste (1981), o espaço e o tempo formam um todo indissociável. São duas noções adquiridas quase simultaneamente, e não são diferentes dimensões da mesma realidade. Não é possível localizar determinado objeto no espaço sem localizá-lo também numa faixa de tempo.

A evolução da percepção e utilização do espaço está na estreita dependência da interação com o meio através do movimento, da ação.

Percepção Temporal

A percepção temporal, na concepção de De Meuer e Staes (1984), é a capacidade de situar-se em função da sucessão dos acontecimentos (antes, durante e após); da duração dos intervalos; noções de tempo longo, curto, de ritmo regular, irregular; noções de certos períodos (dias da semana, meses, estações), e do caráter irreversível do tempo (como algo que já passou).

Fonseca (1988), afirma que as estruturas rítmicas põem em jogo a sucessão, a repetição, a preparação, a organização e a execução de comportamentos psicomotores que caracterizam as múltiplas atividades do ser humano. O ritmo é um fator de estruturação temporal que sustenta a adaptação do indivíduo ao tempo, fazendo-se necessário descrever sua evolução desde a vida intra-uterina.

Complementando, Le Boulch (1982) afirma que a percepção temporal permite, além da consciência e da interiorização dos ritmos motores corporais, a percepção dos ritmos exteriores. Isto é essencial para que a criança possa tomar consciência de seus movimentos e organizá-los a partir da representação mental.

Ritmo

A palavra ritmo, do grego rhytmos, designa aquilo que flui, que se move, um movimento regulado (ARTAXO e MONTEIRO, 2000).

O ritmo, faz parte de tudo o que existe no universo, sendo um impulso, um estímulo que caracteriza a vida.

Ele se faz presente na natureza, na vida humana, animal e vegetal, nas funções orgânicas do homem, em suas manifestações corporais, na expressão interior exteriorizada pelo gesto, no movimento, qualquer que seja ele. Possibilita combinações infinitas, possui diferentes durações e ou combinações variadas em diferentes formas de movimento, alternando-se com inúmeras formas de repouso (VERDERI,1998, p.53)

Por exemplo, na música, o ritmo é determinado pela melodia, podendo ser lento, moderado ou acelerado. Para se dançar ou cantar uma melodia, deve-se compreender as variações do ritmo que podem ocorrer.

Arribas (2002, p.167), diz que possuir e sentir o ritmo é algo natural ao ser humano, já que seu nascimento a criança vive ritmos naturais que estão na base de sua vida fisiológica (como a respiração, a batida do coração) e de sua vida psíquica.

O ritmo é uma qualidade fundamental existente em todo ser humano, porém de uma forma diferenciada, pois cada indivíduo possui uma característica de ritmo e uma maneira própria de manifestá-lo. Isto é assinalado por Arribas (2002, p.168), que pontua que “não existe um ritmo comum a todos”. Por exemplo, ao se observar a marcha ou o bater palmas das crianças nos primeiros anos, nota-se a existência de diferentes ritmos pessoais. O ritmo também está presente na maioria dos jogos infantis, como bater brinquedos contra o chão ou entre eles, fazendo-os chocarem-se uns contra os outros.

Segundo Rossete (1992), o ritmo é uma qualidade coordenativa fundamentalmente essencial à sobrevivência do ser humano, pois ritmo é vida, e como tal ele ocorre nas funções orgânicas desse ser, em suas atividades e manifestações.

Assim, pode-se falar que cada ser humano possui seu ritmo próprio, que se manifesta de acordo com sua percepção pessoal. O ritmo, natural e fundamental à sobrevivência da criança, indo desde seus movimentos básicos até seu funcionamento orgânico, que possui uma estrutura rítmica, cadenciando e organizando o funcionamento e sobrevivência desta criança.

Arribas (2002) situa que a primeira infância é a idade mais indicada para iniciar o cultivo do sentido rítmico, pois a espontaneidade e a liberdade de expressão da criança nesta fase proporcionam condições muito úteis para trabalhar o ritmo. A mesma autora cita como exemplo o bater palmas, que é o primeiro movimento espontâneo em face do ritmo, e a criança o realiza desde o primeiro ano de vida, quando brinca com aqueles que a cercam.

Para Pallarés (1981), o ritmo é um princípio de vida, que apresenta-se representado no homem como função física, mental e espiritual, além de agir como força integradora. Assim, o ritmo é uma característica essencial ao ser humano, constituindo-se em um fenômeno orgânico-biológico, pois em toda a atividade corporal visualiza-se um trabalho rítmico, que não pode ser dissociado das atividades motoras e até mesmo da própria vida.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Weigel (1988) refere que o ritmo está na raiz dos seres vivos e, em particular, dos seres humanos. Está presente nas atividades respiratória, circulatória, glandular, no ciclo do dia e da noite, semanas e meses, anos, estações, no movimento dos astros e da terra, entre outros.

Sendo assim, ele é fundamental para a criança, pois caracteriza desde movimentos básicos até o funcionamento orgânico que por sua vez apresenta rítmica, cadenciando e organizando o funcionamento e sobrevivência das crianças.

A importância do ritmo é também verificada por Masson (1988), afirmando que o conhecimento do esquema corporal, e particularmente do espaço, é completado pelo domínio no tempo, graças ao ritmo.

O ritmo traduz uma organização dos fenômenos sucessivos, tanto no plano da motricidade quanto no plano da percepção dos sons emitidos no curso da linguagem.

De acordo com Pallarés (1981), as atividades rítmicas, ao lado de outras atividades educativas, contribuirão com a educação física para que a criança adquira, desde o início de sua vida pré-escolar, a base que é indispensável para a complementação de sua formação na escola.

Artaxo e Monteiro (2000), afirmam que as atividades rítmicas desenvolvidas com crianças devem ser iniciadas com pouca variação e serem mais simples, sempre se observando as particularidades de cada criança, dando ênfase ao seu ritmo biológico. Também, segundo os autores, deve-se dar importância à descoberta do corpo e de suas possibilidades de movimento, desenvolvendo juntamente com o ritmo as outras capacidades físicas, como a força, a velocidade, equilíbrio e flexibilidade.

Para estimular o ritmo na criança, pode-se bater palmas, assobiar, estalar os dedos, bater as mãos nas coxas, entre outros. Toda criança é dotada de ritmo que se manifesta antes mesmo do nascimento, cabendo ao professor aperfeiçoá-lo e adaptá-lo, em inúmeras oportunidades (VERDERI, 1998).

O aprendizado ocorre sempre que coloca-se algum obstáculo ou uma forma diferenciada de se produzir estes movimentos, e esta progressividade acontece até o momento em que o professor introduz atividades mais complexas, e a criança controla sua sincronia motora. Segundo Le Boulch (1982), existe uma sincronização sensório-motora quando uma série de estímulos sonoros periódicos se justapõe a uma realização motora correspondente.

A precisão rítmica depende da capacidade motora da criança, ao mesmo tempo em que a favorece. É um processo lento que se deve ir trabalhando progressivamente (ARRIBAS, 2002). De acordo com essa autora, sabe-se que uma pessoa tem um bom sentido do ritmo quando tem um domínio de seu corpo, que lhe permite adaptar seus movimentos, com precisão, aos estímulos mais diversos e variados.

Assim, a criança possui um tempo próprio, de reação, que deve ser respeitado e levado sempre em conta, pois cada uma tem sua individualidade característica. Os gestos e movimentos da criança devem se ajustar ao tempo e ao espaço exterior sem perder a naturalidade e harmonia.

A educação física infantil, por meio da sua ação pedagógica, deve valorizar o ritmo como regulador de atitudes coerentes após progressivo domínio desta capacidade a partir da infância. Componentes pedagógicos como a música, dança, percussão, jogos e outros devem ser estimulados e praticados através do movimento, num sentido rítmico juntamente com outras capacidades, para assegurar a sua consistência e seus benefícios num futuro adulto.

O movimento

De acordo com Fonseca (1988), o movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. Ele é a parte mais ampla e significativa do comportamento do ser humano. É obtido através de três fatores básicos: os músculos, a emoção e os nervos, formados por um sistema de sinalizações que lhes permitem atuar de forma coordenada. O cérebro e a medula espinhal enviam aos músculos, pelos seus mecanismos cerebrais, ordens para o controle da contínua atividade de movimento com específica finalidade e dentro das condições ambientais. Essas ordens sofrem as influências do meio e do estado emocional do ser humano.

O movimento é uma necessidade imperiosa do homem, desde o seu nascimento até a morte e, já no ventre materno, a criança manifesta esta necessidade. Trata-se de uma conduta molar do indivíduo, acentuada na área do corpo, coexistindo com o mundo externo e a mente.

Segundo Bleger apud Rodrigues (1997), a conduta humana é sempre molar, isto é, total, implicando manifestações nas três áreas: mente, corpo e mundo externo. É uma totalidade organizada de manifestações apresentando motivação através de estímulos; constitui uma unidade funcional, com funções e objetivos; tem sentido, finalidade e estrutura, implicando uma pauta específica de relação.

Todas as possibilidades de movimento que o homem pode realizar são naturais, porque a sua natureza assim o permite.

A educação física é a educação do homem por meio do movimento e a partir do movimento, pois, este em suas mais variadas apresentações, constitui um instrumento ou meio para educar, treinar e aperfeiçoar.

A unidade básica do movimento, de acordo com Barros apud Molinari e Sens (2003), que abrange a capacidade de equilíbrio e assegura as posições estáticas, são as estruturas psicomotoras.

Segundo o mesmo autor, as estruturas psicomotoras definidas como básicas são: locomoção, manipulação e tônus corporal, que interagem com a organização espaço-temporal, as coordenações finas e amplas, coordenação óculo-segmentar, o equilíbrio, a lateralidade, o ritmo e o relaxamento. Elas são traduzidas pelos esquemas posturais e de movimentos: andar, correr, saltar, lançar, rolar, rastejar, engatinhar, trepar e outras considerações superiores, como estender, elevar, abaixar, flexionar, rolar, oscilar, suspender, inclinar e outros movimentos que se relacionam com os movimentos da cabeça, pescoço, mãos e pés.

O movimento, conforme assinala Laban (1978), é o resultado, ou da busca de um objeto dotado de valor ou da condição mental; suas formas e ritmos mostram a atitude da pessoa que se move numa determinada situação, podendo tanto caracterizar um estado de espírito e uma reação, como atributos mais constantes da personalidade.

De acordo com Tani et al. (1988), é por meio do movimento que o ser humano se relaciona com o outro, que aprende sobre si mesmo, sobre o que é capaz de fazer.

Segundo os mesmos autores, o ato motor é constituído por tarefas que requerem movimentos que devem ser aprendidos a fim de serem executados corretamente. Por exemplo, andar, apesar de ser uma habilidade fundamental e relativamente simples, exige aprendizagem da criança.

Flinchum (1986) reconhece a importância dos movimentos e atividades motoras para as crianças, afirmando serem de tal forma inerentes a vida dessas, que merecem ser observados com maior atenção e compreensão, para que atitudes e capacidades desta fase da vida sejam alcançadas.

Dessa maneira, o movimento é essencial ao ser humano, especialmente às crianças, pois através de uma aprendizagem e estímulos adequados, estas crescerão tornando-se adultos mais conscientes de suas capacidades e habilidades motoras.

De acordo com Gesell (1992), o movimento assume uma importância vital como elemento de construção da personalidade e do desenvolvimento motor da criança, resultando por um lado das experiências vividas e, por outro, da maturação fisiológica.

Já o ritmo, para a criança, é uma habilidade fundamental na sua educação psicomotora, pois integra as percepções espaciais e temporais a fim de estruturar a ação. A criança adapta seus movimentos ao seu próprio ritmo, para a seguir adaptar-se a um ritmo imposto, diferente do seu. De acordo com Seybold (1980), o ritmo tem um papel relevante na formação motora e cognitiva do homem, e de, portanto, ser estimulado pela escola, local onde centra-se parte da educação motora da criança, principalmente por meio da Educação Física Infantil.

Considerações finais

Conforme verificou-se neste trabalho, a meta da educação física é desenvolver o potencial da criança, incluindo-se as habilidades cognitivas, afetivas, sociais e motoras. Por meio de um bom planejamento e conhecimento biológico dos movimentos e fases da criança, pode-se contribuir para um melhor desenvolvimento psicomotor na infância.

A Educação Física Infantil deve ter como objetivo contribuir para o desenvolvimento das crianças, em seus vários aspectos. A criança precisa praticar exercícios adequados ao seu biótipo, para que estes contribuam para estimular os movimentos e o ritmo nas crianças, possibilitando um crescimento adequado e eficaz.

O professor de Educação Física Infantil precisa entender as necessidades de cada fase da criança, para que os exercícios a serem realizados sejam adequados a cada fase do desenvolvimento infantil, possibilitando assim conseguir os melhores resultados, continuamente.

Nas crianças, a elaboração da informação temporal se faz primeiro ao nível da vivência corporal, para mais tarde a percepção do tempo tornar-se possível. Para tanto, a criança deve trabalhar com seu corpo, através de atividades específicas.

O ritmo tem uma relação com o fator temporal. Ele é uma característica inerente ao movimento e representa a duração dos acentos que o formam, pois é através desses ritmos que a criança poderá estabelecer as noções temporais, partindo da tomada de consciência e controle do próprio corpo.

Por meio do ritmo dos movimentos registrados no seu corpo é que a criança tem acesso à organização temporal. Ele também contribui para um desenvolvimento neuromuscular eficiente, de tal forma que faz com que a criança se destaque das demais. Contribui para o aprimoramento físico e social, além de estimular a tomada de decisões e a auto-confiança.

O exercício rítmico não é apenas um meio de regularizar a atividade motriz, mas também um meio de apreender as situações e relações no tempo pelas características que apresenta.

As vantagens trazidas pelo ritmo possuem características não apenas físicas, mas também sociais, psicomotoras e culturais. Dessa maneira, constituem-se em uma das formas de aprendizagem mais eficientes, fazendo-se necessárias nas escolas. As atividades rítmicas devem ser realizadas constantemente, para que as crianças consigam obter resultados satisfatórios.

Assim, ficou evidente através da realização deste trabalho de análise dos conteúdos, que o ritmo constitui-se em capacidade possível de ser eficazmente estimulado na infância, por meio da Educação Física Infantil.

Referências

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