Saúde
10/07/2010 - 13:12 - revista VEJA
Pesquisa
Cientistas criticam estudo sobre genética e longevidade
Autor da pesquisa chegou a admitir, em um e-mail, que estava "consciente de um erro técnico no teste de laboratório"
Cientistas apontam erros em pesquisa feita com centenários (Getty Images)
Um estudo sobre genética em pessoas centenárias publicado na semana passada na revista científica Science está sob críticas de geneticistas. Eles dizem que o artigo tem falhas evidentes, provavelmente é incorreto e não deveria ter sido divulgado pela renomada publicação.
O estudo, que recebeu ampla cobertura da imprensa, afirma que identificou 150 variantes genéticas colhidas entre pessoas com mais de 100 anos na Nova Inglaterra predeterminam a longevidade e que um teste baseado nessas variantes poderiam prever quem viveria até a velhice extrema.
Na quarta-feira, o autor principal do artigo, Thomas Perls, da escola de Medicina da Universidade de Boston, disse num e-mail que estava "consciente de um erro técnico no teste de laboratório" usado em alguns dos centenários pesquisados. Os resultados estão sendo reexaminados agora, mas uma análise preliminar sugere que "o aparente erro não afeta a precisão do modelo", disse ele.
A Science divulgou uma declaração na quarta-feira dizendo que os dados passarão por nova análise, mas que os revisores do artigo "determinaram que as estatísticas eram adequadas”. Os resultados da Universidade de Boston podem ser questionados. A questão lança luz sobre um emaranhado de interesses, que começa pelas revistas científicas semanais Nature, Science e New England Journal of Medicine, envolvidas numa competição permanente para transformar em notícia estudos com avanços da ciência.
Os editores das publicações sabem que a cobertura da imprensa pode polir a reputação da revista. Os cientistas, de seu lado, gostam de ter seu trabalho citado na imprensa porque isso ajuda a chamar a atenção para sua área e gera dinheiro. Os jornalistas científicos, competindo por espaço com notícias de política e esporte, saúdam as novidades, nem sempre com o rigor exigido. Tais fatores às vezes se combinam e geram uma grande publicidade para afirmações científicas que talvez não mereçam tanto crédito.
O estudo da Universidade de Boston foi amplamente divulgado, de forma acrítica em muitos casos, depois de uma entrevista coletiva da Science sobre o assunto na semana passada. As resenhas dos geneticistas foram menos entusiásticas. "Acho muito improvável que os resultados do estudo na Science estejam corretos, ou mesmo corretos em parte", disse David Goldstein, geneticista da Universidade Duke. "Estou muito surpreso que a Science o tenha publicado e penso que a questão levanta um tema interessante e mais amplo, que é a forma como a imprensa lida com questões sérias sobre a segurança da comprovação dos estudos.
Outro especialista, David Altshuler, do Hospital Geral de Massachusetts, explicou que a técnica de usar diferentes tipos de fragmentos de gene para escanear o genoma, com fizeram os pesquisadores em Boston, é uma velha conhecida fonte de possível de problemas.
Na terça-feira, o médico islandês Keni Stefansson, da companhia Decode Genetics, identificou o que lhe pareceu o problema específico do estudo. Um dos dois tipos de fragmento utilizado pelos pesquisadores, chamado Illumina 610, que poderia levar a um erro de avaliação e ser associado à longevidade.
As revistas científicas não podem garantir a veracidade dos artigos que publicam, mas tentam eliminar erros óbvios enviando originais a revisores especialistas. Paola Sebastiani, a estatística do grupo de Boston, disse que os pesquisadores fizeram novas análises “sugeridas pelos revisores anônimos do artigo, que depois ficaram satisfeitos com os resultados”. Seja porque os revisores não foram suficientemente rigorosos ou porque os editores da Sciencie ignoraram suas advertências, o resultado foi a publicação de um artigo que os especialistas acreditam não ter sido adequadamente analisado.
* (Com The New York Times)
Tags: envelhecimento, genética, longevidade, science.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cientistas-criticam-estudo-sobre-genetica-e-longevidade
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